Não se sabe exatamente quantos moradores apreciam um trago em Lamim, no interior de Minas Gerais. Mas, se o número de fabricantes por habitante fosse critério, a pequena cidade com nome semelhante ao do macarrão poderia receber o título de “capital da cachaça” — embora não haja muita gente por lá.
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O lugar abriga cerca de 3,5 mil habitantes. Não é tanta gente quanto na capital de um Estado — mas há mais fabricantes por lá do que em dez unidades da Federação. Aliás, em duas delas nem sequer há quem a produza — esses são os casos de Amapá e Roraima.
Do restante do país, todos os Estados — e até o Distrito Federal — produzem (e consomem) a bebida. Minas Gerais, onde fica Lamim, tem o maior número: 501. Apesar de liderar o ranking, o número é inferior à quantidade de municípios (853). Mesmo por lá, existem lugares sem ninguém para fazer o líquido. Nessa capital da bebida, por outro lado, são 10 empresas dedicadas à fabricação — os números estão no Anuário da Cachaça de 2025.
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O documento é do Ministério da Agricultura. Elaborado em parceria com os representantes do setor, é uma espécie de grande mapeamento da produção nacional da bebida inventada no Brasil, muito antes de o próprio país existir como nação.
Muito antes de uma capital da cachaça
As primeiras casas a surgir onde hoje é Lamim são do começo do século XVIII. Segundo alguns historiadores, as primeiras doses da bebida foram produzidas muito antes disso. O alambique que deu origem a tudo isso começou a funcionar em algum ano entre 1514 e 1532.
Assim, mal deu tempo de Cabral regressar a Portugal, e os primeiros europeus a ficarem no novo território inventaram uma bebida. Por pouco uma dose não inspira a carta de Pero Vaz de Caminha, o principal registro da chegada dos primeiros europeus. E olha que a matéria-prima para a fabricação nem é nativa do Brasil — apesar de ter se adaptado ao país e ser, desde aqueles tempos, um dos pilares da riqueza nacional.
Mais do que beber
A fabricação ocorre a partir da cana-de-açúcar. O caldo extraído da planta, depois de aquecido, geralmente é usado para produzir três coisas: a cachaça, o etanol (ou álcool combustível) e o açúcar — este último, o primeiro produto “made in Brazil” para o resto do mundo.
Os portugueses trouxeram a cana, junto com as técnicas de cultivo que haviam testado em territórios do outro lado do Atlântico. Com as primeiras plantações, também foram construídos os primeiros engenhos para produzir açúcar e, próximos a eles, algumas vilas que depois viraram cidades.
Um dos mais icônicos cartões-postais do país, aliás, deve seu nome à produção de açúcar — um destino manifesto feito pela natureza no território nacional. Trata-se do Pão de Açúcar, batizado assim pelo homem porque seu formato lembra justamente as formas usadas para fabricar o adoçante, antes de os engenhos virarem as usinas que hoje brindam o país com muito mais do que cachaça e açúcar — são combustível para fomentar ciência e tecnologia.
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