Um fantasma ronda a Europa — o fantasma da gripe aviária. Só neste ano, mais de 11 milhões de galinhas, das quais 4,5 milhões de poedeiras, foram abatidas na Polônia, devido a 82 focos de gripe aviária de alta patogenicidade. De 25 de janeiro a 25 de março, em 47 países, foram registrados 921 novos casos de gripe aviária, sendo mais da metade na Europa. Nos Estados Unidos, a doença causou o abate de cerca de 170 milhões de aves desde 2022. A situação gerou escassez de ovos, aumento dos preços, afetou o mercado global e o consumidor. Graças a seu nível tecnológico e organizacional, a produção avícola brasileira estava, até maio de 2025, indene da doença, apesar da constante chegada do vírus ao Brasil.
A gripe aviária (vírus influenza A H5N1) afeta América do Norte, Ásia, Europa, vários países da África e América Latina. Na Europa, de janeiro a março, foram 119 casos na Alemanha, 115 no Reino Unido, 63 na Polônia, 50 nos Países Baixos, 48 na Hungria, 32 na Itália, 20 na Bélgica além de casos em países como Irlanda, Lituânia, Noruega, Dinamarca, Eslováquia, Moldávia, Bulgária, Áustria, Espanha, Portugal, Suécia e Suíça. Na maioria desses continentes, a gripe aviária se tornou um problema endêmico, de difícil erradicação. E não há vacina.
A gripe aviária é levada pelos continentes, sobretudo, por aves migratórias e pela fauna local, entre outros mecanismos. O vírus da gripe aviária tem migrado para mamíferos e até humanos com vários casos na América do Norte e na Europa. Pela primeira vez, o vírus da gripe aviária foi encontrado em focas mortas no Japão, na costa na cidade de Nemuro, leste de Hokkaido, em 2025. Pela terceira vez, o vírus foi detectado em mamíferos no Japão. Centenas de humanos, em contato direto com aves infectadas, contraíram a doença. A evolução futura desse vírus demanda muita atenção.
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É enganosa a notícia, segundo a qual agora a gripe aviária chegou no Brasil. No país, centenas de casos de gripe aviária são detectados e confirmados desde 2023, ao longo das rotas de diversas aves migratórias. Este ano, apenas até 17 de março, 166 casos de gripe aviária foram registrados pela Vigilância Sanitária do Ministério da Agricultura e Pecuária. Desses, 163 eram aves silvestres. Apenas três ocorreram em galinhas de “fundo de quintal” ou de subsistência. Nenhum caso havia atingido a criação comercial de aves nas granjas modernas do Brasil.
O Brasil X a gripe aviária
Exemplo de sanidade animal e eficiência produtiva, o Brasil é o segundo produtor mundial de carne de frango (15 milhões de toneladas), cujo valor bruto é de R$ 92 bilhões. O país é o maior exportador de carne de frango, com 5 milhões de toneladas ou 33% do mercado mundial. Um valor de US$ 9,7 bilhões exportado para 150 países. O Brasil abate cerca de 5,5 bilhões de aves por ano e produz mais de 56 bilhões de ovos por ano — ou 1,8 mil ovos por segundo.
Com relação à identificação de foco de H5N1 em uma granja com algumas dezenas de aves do município de Montenegro (RS), a Associação Brasileira de Proteína Animal e a Associação Gaúcha de Avicultura ressaltaram a total transparência do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil, juntamente com a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Rio Grande do Sul em relação à identificação, comunicação e contenção dessa situação pontual.
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Os avicultores brasileiros e suas organizações estão preparados para enfrentar esses casos. Todas as medidas necessárias ao contingenciamento da situação foram rapidamente adotadas neste caso pontual. A situação é muito diferente da Europa ou dos EUA em matéria de epidemia de gripe aviária. O caso gaúcho está sob controle e monitoramento dos órgãos governamentais.
É bom lembrar: tanto neste caso no Rio Grande do Sul, como em qualquer outra ocorrência futura da enfermidade em aves, isso não representa qualquer risco ao consumidor final. O agronegócio brasileiro com transparência, organização e tecnologia exorcizará sempre — com a realidade — as narrativas fantasmagóricas e as catilinárias de seus concorrentes e adversários.
Ótimo artigo. Resumo esclarecedor.
Dr. Evaristo é um ser humano singular — um cientista capaz de traduzir temas complexos com extraordinária clareza para a sociedade. É uma grande sorte para o Agrobcontar com ele. Porém, é uma pena que o mesmo Agro ainda o aproveite tão pouco.
Dr. Evaristo, seus textos são sempre esclarecedores mormente nessas situações de “emergência” que a imprensa faz questão de espalhar aos sete ventos.
Seu artigo é mais do que cabível, é fundamental!