Homeschooling. O termo em inglês ainda pode soar estranho aos ouvidos brasileiros, mas o significado é fácil: educação domiciliar. Em vez de enviar os filhos à escola e submetê-los ao sistema de educação obrigatório, com um extenso — e tedioso — currículo, os pais homeschoolers (adeptos do ensino em casa) alfabetizam os filhos no conforto e na segurança do lar. Esse é o escopo do projeto Mães Educadoras, um bem-sucedido programa de educação domiciliar sediado na cidade de São Paulo.
O projeto, que também está presente em outras cidades da Grande São Paulo, nasceu em 2012 pelas mãos de s Mugnaini, formada em relações públicas, tendo atuado com planejamento e realização de eventos sociais e acadêmicos. Seu objetivo não era somente possibilitar às suas filhas adolescentes, Amanda e Vitória, uma educação fora dos moldes rígidos do sistema de ensino compulsório. Não. s queria atender à sua vocação de mãe: ensinar e proteger. E, com a ajuda de seu marido, professor universitário, ela despertou outras mães para o projeto de educação que valoriza em primeiro lugar o indivíduo.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
O combate à excessiva regulamentação estatal no âmbito da educação foi um dos principais objetivos do projeto?
Nossa motivação em realizar o ensino domiciliar não tinha como enfoque principal a objeção à intromissão do Estado, mas, sim, o aprendizado de uma maneira mais livre. Tínhamos o interesse em um sistema de educação que não viesse de um sistema de fábrica, onde todos são nivelados igualmente. Nosso interesse estava na observação individual, com o objetivo de perceber individualmente as inteligências múltiplas, avaliando as diversas habilidades. A possibilidade da educação nesses moldes foi a nossa grande motivação.
Qual foi a reação de seus parentes e amigos depois de saberem que vocês não enviariam suas filhas à escola?
No início, quando nossa filha mais velha tinha 4 anos de idade, não tínhamos pretensão alguma em realizar um trabalho em grupo no âmbito do homeschooling. Minha filha ouvia dos seus primos que iam à escola que lá era “bom”, que era “interessante”. Nossa filha nos disse que gostaria de ter ido para a escola desde bebê. Foi quando demos início ao projeto, buscando por apoio de outras famílias educadoras. Tivemos de conversar com amigos e parentes, que, com o tempo, perceberam que nossa escolha havia sido a melhor. Havia parentes que diziam que não concordavam com nossa escolha, mas que respeitavam nossa decisão; no início houve bastante respeito nesse sentido.
Já havia projetos de homeschooling no Brasil quando nasceu o Mães Educadoras?
Naquela época não havia tantos modelos de educação no lar no Brasil, mas tínhamos muitos amigos em outras regiões do país que nos ajudaram, dentre os quais Rick Dias, fundador da Aned (Associação Nacional da Educação Domiciliar). Ele fez um trabalho belíssimo de desmistificação desse modelo de ensino, e nos mostrou as vantagens desse método. Sanamos dúvidas jurídicas, porque o Rick explicou que a educação domiciliar não era um crime, porque crime seria abandono intelectual — ao contrário do que estávamos fazendo.
As pessoas que são críticas ao homeschooling afirmam que esse método de ensino encerra as crianças em uma “bolha”, sem contato social. Como o seu projeto mostrou que isso não é verdade?
Nada mais longe da verdade do que dizer que a educação domiciliar encerra as crianças em uma “bolha”. A criança que faz homeschooling se relaciona bem não só com crianças da mesma idade, mas com colegas de outras faixas etárias — inclusive com adultos e idosos. Minha experiência de 12 anos no projeto mostra que aqueles que estão inseridos em grupos de apoio são bastante acolhedores. A criança e o jovem que são ensinados em casa não têm só uma entidade escolar para se relacionar. Isso porque eles praticam esporte, têm aula de música, fazem artesanato, aprendem culinária; eles estão sempre muito bem envolvidos.
O projeto Mães Educadoras tem alunos destacados? E como é o convívio entre as famílias homeschoolers?
Nós tivemos em nosso grupo jovens que fizeram balé clássico no Teatro Municipal de São Paulo por alguns anos. Temos também crianças que tocam instrumentos musicais — e não são advindas de famílias abastadas. Há também jovens que se dedicam ao esporte e ganham prêmios. Nossa preocupação foi em encontrar crianças que estudassem da mesma forma, e então procuramos por outras famílias que tivessem os mesmos objetivos que nós. Começamos a nos encontrar uma vez por semana para piqueniques, jogos com as crianças; e isso nos fortalecia enquanto mães. Foi assim que o grupo de apoio nasceu, e ele se manteve por conta de um objetivo. Ele começa dessa maneira informal e simples para criar laços, mas depois se torna algo mais concreto. E tudo isso demanda muito esforço. Os grupos se organizavam na semana por meio das mães, com total apoio dos maridos; mas, durante o ano, as famílias tinham cinco atividades: feira de ciências, olimpíadas de inverno, um eio temático, uma reunião e uma confraternização de final de ano.
Outra crítica contra o ensino domiciliar é que ele supostamente seria tendencioso e de cunho religioso, mostrando às crianças apenas uma versão da História. Seu projeto também mostra que isso não é verdade, como">

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