O adoçante artificial aspartame foi classificado como um composto “possivelmente cancerígeno para seres humanos” pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc), órgão vinculado à Organização Mundial da Saúde (OMS). O relatório, liberado na quinta-feira 13, categorizou a substância no grupo conhecido como 2b, do qual também fazem parte o extrato de aloe vera, as radiações eletromagnéticas e o digoxina, um medicamento indicado no tratamento de insuficiência cardíaca.
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O trabalho foi feito em parceria com o Comitê Conjunto de Especialistas em Aditivos Alimentares (JECFA) da Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Os dois órgãos realizaram revisões independentes — mas complementares — da literatura científica. Enquanto a Iarc informa se determinada substância é cancerígena (ou não) e em qual grau, o JEFCA avalia a dosagem considerada segura.
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O aspartame entrou no grupo porque a Iarc encontrou evidências limitadas de que ele causa câncer em humanos — mais especificamente o carcinoma hepatocelular, que é um tipo de câncer de fígado. A agência também relatou que há evidências limitadas sobre esse elo em estudos com animais e em relação a possíveis mecanismos de ação.
“Temos evidências limitadas, e para um tipo de câncer”, disse Mary Schubauer-Berigan, representante da Iarc. “Portanto, essa classificação representa mais um chamado para que a comunidade científica realize mais pesquisas com o objetivo de entender melhor o potencial carcinogênico do aspartame.”
Por isso, em paralelo, o JECFA concluiu que ainda não há motivos para alterar o limite máximo de ingestão diária de aspartame, que é de 40 miligramas (mg) por quilo de peso da pessoa.
Substância popular
A análise do aspartame é especialmente bem-vinda devido à popularidade desse adoçante artificial. Conhecido por ser 200 vezes mais doce do que o açúcar, ele entra na fórmula de vários produtos. “O aspartame é encontrado principalmente em bebidas artificiais e industrializadas”, comenta a médica nutróloga Andrea Pereira, do Hospital Israelita Albert Einstein (SP). Sorvetes, iogurtes, gomas de mascar, confeitos, molhos e outras guloseimas também são elaborados com a substância.
Para o oncologista Pedro Exman, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a entrada do aspartame no grupo 2b sinaliza que é preciso pesquisá-lo melhor quanto ao potencial cancerígeno. “Essa lista não é algo que mostra uma relação direta, mas, sim, levanta uma bandeira de alerta”, afirma. Exman lembra ainda que vários fatores costumam estar por trás do desenvolvimento do câncer. Ou seja, o aparecimento de um tumor não pode ser atribuído a uma única causa. Questões como predisposição genética e exposição a outros carcinogênicos devem ser levadas em consideração.
Limite seguro para o consumo humano
A inserção do aspartame pelo Iarc no grupo 2b não significa que ele esteja proibido. O relatório do JECFA mantém a indicação de 40 mg por quilo de peso como um limite diário seguro. sco Branca, diretor do Departamento de Nutrição e Segurança Alimentar da OMS, ressaltou que se trata de uma quantidade bastante significativa.
Para a nutricionista Maria Eduarda de Melo, da Área Técnica de Alimentação, Nutrição, Atividade Física e Câncer do Instituto Nacional de Câncer (Inca), embora o limite realmente seja amplo, isso não significa que o aspartame não mereça um olhar cauteloso Ela lembra que, em maio deste ano, com base em uma série de estudos, a OMS deixou de recomendar o uso de adoçantes artificiais como estratégia para perder peso ou evitar doenças como diabetes — questões que sempre tiveram grande apelo. “E, agora, vem essa classificação da Iarc. Por mais que seja um alerta, a pergunta que fica é: se não há benefícios, e ele pode vir a ser considerado cancerígeno, por que consumir">“Paciente que teve remissão completa de câncer volta a andar”
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