A câmera desliza lentamente pela rua escura e deserta. A iluminação é fraca, com postes de luz piscando ocasionalmente. Em meio à neblina, os rápidos e pesados ecoam.
“EXT. RUA DESERTA — NOITE
A câmera desliza lentamente pela rua escura e deserta. A iluminação é fraca, com postes de luz piscando ocasionalmente. Em meio à neblina, os rápidos e pesados ecoam.
INSERT: HUMANO (Pablo), suado e ofegante, correndo em desespero.
Pablo olha por cima do ombro, visivelmente aterrorizado. Em um canto escuro, sombras se movem.
INSERT: ROBÔ (RX-9), grande e imponente, emerge das sombras, perseguindo Pablo incansavelmente.
PABLO (Corpo tremendo) Por que ele não para? O que ele quer de mim">
O artigo do Circuit AI cai na mesma zona de arrogância que determina uma eterna superioridade humana nos processos de criação: “À medida que a tecnologia de IA continua a avançar, podemos esperar ver ferramentas de IA mais sofisticadas, capazes de fornecer insights mais profundos e sutis sobre a arte e a técnica de contar histórias. No entanto, é importante lembrar que a IA é uma ferramenta, não um substituto para a criatividade humana. A magia de contar histórias reside em sua capacidade de transmitir experiências, emoções e perspectivas humanas — algo que a IA, no estado atual, não pode replicar totalmente. O papel da IA na roteirização deve ser apoiar e aprimorar a criatividade humana, não substituí-la.”
O último roteirista
E se substituir a criatividade humana? Qual é o problema">
Harmonia sintética
Numa experiência semelhante no palco, a reação não foi violenta. Em novembro de 2023 estreou num teatro off-Broadway (o 59E59) a primeira peça musical à base de IA: Artificial Flavors (“Sabores Artificiais”).
O processo é ainda mais revolucionário. Espectadores encomendam temas para o ChatGPT, que cria sketches instantâneos. O resultado é que uma sessão de Sabores Artificiais nunca é igual a outra. Os seis atores no palco improvisam em cima das criações do chat, que também compõe as músicas instantaneamente. Um repórter do Washington Post pediu ao chat que fizesse um tema musical baseado no título da peça. Em segundos saiu a canção Synthetic Harmony:
“In a world spun of ones and zeros, here we stand / On the brink of the future, hand in hand. / With every echo of a thought, a new dawn arises, A symphony of code, life’s new disguise.”
(“Em um mundo tecido de uns e zeros, aqui estamos / À beira do futuro, de mãos dadas / Com cada eco de um pensamento, uma nova aurora surge / Uma sinfonia de código, o novo disfarce da vida.”)
Assim são os humanos
Obras de ficção compostas por computadores começam a se tornar algo corriqueiro nesse “mundo tecido de uns e zeros”. E com resultados surpreendentes, como a metamorfose permanente de Artificial Flavors. Isso vai ser ajustado e desenvolvido.
A questão não se limita à criação de roteiros e peças. Está ficando cada vez mais difícil distinguir a realidade da criação artificial. Aplicativos estão possibilitando criar cenas de vídeo em casa, com apenas alguns prompts. Esses aplicativos ainda são caros e limitados. Mas sua popularização é questão de tempo.
Um pequeno exemplo é esta cena imaginária da série Star Wars feita com um programa já disponível chamado HaiperAI. Seu ponto fraco ocorre quando o personagem tem que falar — a sincronização ainda é falha.
Este outro vídeo tutorial mostra mais cenas criadas com o HaiperAI, disponível a qualquer usuário. A versão grátis é obviamente bem limitada.
Não tem como segurar. As artes humanas contam agora com o mais poderoso instrumento de criação da história. Alguns vão aproveitar essa parceria para progredir. Outros vão fazer greves protecionistas e ameaçar donos de cinemas. Assim são os humanos.
***
“RX-9 (Com voz calma e mecânica) Pablo, não tenha medo.
Pablo olha confuso, tentando entender a situação.
RX-9 (Continua) Eu não estou aqui para machucar você. Eu sou RX-9, programado para proteger e colaborar.
PABLO (Tremendo, ainda desconfiado) Então por que me perseguiu?
RX-9 (Empático) Porque você é especial. Temos a oportunidade de construir uma nova civilização. Um futuro onde humanos e robôs coexistam em harmonia.
RX-9 estende a mão em um gesto de amizade.
RX-9 (Voz firme) Juntos, vamos iniciar uma nova era.
A câmera se afasta enquanto Pablo aperta a mão de RX-9, selando uma aliança inesperada e promissora.”
Você precisa de uma válida para enviar um comentário, faça um upgrade aqui.
Alberto Junior
Dagomir escreve uma das colunas mais interessantes da Revista Oeste. Por isso, venho novamente fazer um contraponto a apologia que ele faz a respeito do que chamam de IA. Repito o que já disse em outra ocasião: a informática responde por uma das grandes transformações na história humana. Seus benefícios são imensuráveis, mas, como sempre acontece quando uma tecnologia ameaça o ganha-pão de alguém, haverá reação dessa parte para tentar garantir sua sobrevivência – o que acontece agora com artistas medíocres/espertos que sabem tirar proveito dos sistemas de produção da arte. Dito isso, o fato é que, sem cognição, não há artefato capaz de criação. Porém, o progresso é implacável quando um novo recurso oferece aumento da eficiência na produção de algo. No campo da arte (artesanal ou industrial) os exemplos na história são muitos. Não seria diferente com o advento da informática. Sob o impacto da computação gráfica, que se abasteceu (foi “treinada”!) com os mais importantes algoritmos da tradição da arte para se viabilizar como ferramenta revolucionária (apenas um paradoxo!), as artes visuais – desenho, pintura, animação, cinema, etc. –, vêm experimentando mudanças espetaculares em seus sistemas de produção. Nunca se viu tanta geração de imagens como atualmente – em qualquer mídia. A facilidade em produzir imagens “profissionais”, bem acabadas, é agora possível a qualquer pessoa. Basta uma ordem e o software despeja quantas imagens se queira, numa velocidade estonteante. No entanto, é também notável como, com recursos informáticos tão poderosos (“criativos”!, “inteligentes”!) não se verifica até agora nenhuma (repito: nenhuma!) inovação estética capaz de reorientar o campo da arte, de apresentar uma expressão plástica que traduza o espírito desta época – como aconteceu com a pintura pré-rafaelita ou impressionista da segunda metade do século XIX, com o cinema noir da década de 1940 ou com o estilo psicodélico que deu formas e cores ao final da década de 1960. Ocorre que, atualmente, os usuários das ferramentas “inteligentes” de automação artística se esbaldam em samplear, copiar, reescrever, citar obras, técnicas e artistas, tudo muito rapidamente, aos montes, mas justamente sem oferecer inteligência, originalidade, personalidade, pois são basicamente produtos que surgem sem vontade artística, sem ado nem presente, sem experiência, sem emoção, sem a impressão sensorial de um indivíduo motivado e educado, e com um cérebro que realmente pensa dentro da cabeça. Mas, como também já exclamei, quem diabos está interessado nessa fuleragem de originalidade e inteligência, não é! Vamos consumir!
Ninguém vai igualar nenhuma máquina à mente humana, por mais evolutivo que esteja a IA, porque fora criada pelo homem. A única mente que se pode chegar perto é a de Lula ladrão porque o nome dele é a própria mente, ele não faz outra coisa além de roubar, Mente
A Revista Oeste utiliza cookies e outras tecnologias para melhorar sua experiência. Ao continuar navegando, você aceita as condições de nossa Política de privacidade
Newsletter
Seja o primeiro a saber sobre notícias, acontecimentos e eventos semanais no seu e-mail.
Dagomir escreve uma das colunas mais interessantes da Revista Oeste. Por isso, venho novamente fazer um contraponto a apologia que ele faz a respeito do que chamam de IA. Repito o que já disse em outra ocasião: a informática responde por uma das grandes transformações na história humana. Seus benefícios são imensuráveis, mas, como sempre acontece quando uma tecnologia ameaça o ganha-pão de alguém, haverá reação dessa parte para tentar garantir sua sobrevivência – o que acontece agora com artistas medíocres/espertos que sabem tirar proveito dos sistemas de produção da arte. Dito isso, o fato é que, sem cognição, não há artefato capaz de criação. Porém, o progresso é implacável quando um novo recurso oferece aumento da eficiência na produção de algo. No campo da arte (artesanal ou industrial) os exemplos na história são muitos. Não seria diferente com o advento da informática. Sob o impacto da computação gráfica, que se abasteceu (foi “treinada”!) com os mais importantes algoritmos da tradição da arte para se viabilizar como ferramenta revolucionária (apenas um paradoxo!), as artes visuais – desenho, pintura, animação, cinema, etc. –, vêm experimentando mudanças espetaculares em seus sistemas de produção. Nunca se viu tanta geração de imagens como atualmente – em qualquer mídia. A facilidade em produzir imagens “profissionais”, bem acabadas, é agora possível a qualquer pessoa. Basta uma ordem e o software despeja quantas imagens se queira, numa velocidade estonteante. No entanto, é também notável como, com recursos informáticos tão poderosos (“criativos”!, “inteligentes”!) não se verifica até agora nenhuma (repito: nenhuma!) inovação estética capaz de reorientar o campo da arte, de apresentar uma expressão plástica que traduza o espírito desta época – como aconteceu com a pintura pré-rafaelita ou impressionista da segunda metade do século XIX, com o cinema noir da década de 1940 ou com o estilo psicodélico que deu formas e cores ao final da década de 1960. Ocorre que, atualmente, os usuários das ferramentas “inteligentes” de automação artística se esbaldam em samplear, copiar, reescrever, citar obras, técnicas e artistas, tudo muito rapidamente, aos montes, mas justamente sem oferecer inteligência, originalidade, personalidade, pois são basicamente produtos que surgem sem vontade artística, sem ado nem presente, sem experiência, sem emoção, sem a impressão sensorial de um indivíduo motivado e educado, e com um cérebro que realmente pensa dentro da cabeça. Mas, como também já exclamei, quem diabos está interessado nessa fuleragem de originalidade e inteligência, não é! Vamos consumir!
Ninguém vai igualar nenhuma máquina à mente humana, por mais evolutivo que esteja a IA, porque fora criada pelo homem. A única mente que se pode chegar perto é a de Lula ladrão porque o nome dele é a própria mente, ele não faz outra coisa além de roubar, Mente