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Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 234

Não confio em ninguém que me inspire confiança

A disputa pela prefeitura de São Paulo não é um debate abstrato sobre soluções idílicas. É uma disputa dura pelo controle da cidade mais rica do país

Roberto Motta
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Hoje é segunda-feira, são 21h15, e a pancadaria está rolando solta na maioria dos grupos de WhatsApp. O tema é o mesmo em todos eles: a eleição para a prefeitura de São Paulo. O motivo da briga é que alguns enxergam salvação onde outros enxergam charlatanismo e marketing multinível. A questão é complicada pelo fato de que existem pessoas inteligentes, experientes e razoáveis nos dois lados do debate. Amigos queridos estão se enfrentando.

Todos pedem minha opinião. Tentarei apresentá-la aqui, procurando me ater aos fatos e analisando os diversos aspectos com justiça e equilíbrio.

Sei que fracassarei.

É possível examinar a disputa eleitoral em São Paulo sob dois pontos de vista distintos. O primeiro é considerando-a como uma situação eleitoral local, que diz respeito apenas a São Paulo. A segunda forma é considerando o contexto maior da política nacional e o momento especial — especial em um sentido negativo — que o Brasil atravessa.

Algumas pessoas preocupadas com a questão nacional afirmam que a disputa abriu uma divisão na direita. Há quem enxergue até um desafio à liderança de Jair Bolsonaro.

Eu discordo. Vejo a eleição paulistana como uma questão estritamente local. Em várias oportunidades expus minha opinião de que esta eleição pode repetir a situação ocorrida nas eleições municipais do Rio em 2020. Naquele ano, Jair Bolsonaro apoiou Marcelo Crivella como candidato a prefeito. Crivella não foi considerado um legítimo político de direita, muito menos um bolsonarista. Por isso, muitos eleitores de direita não votaram nele, e Eduardo Paes foi eleito prefeito. Vale repetir: bolsonaristas não votaram no candidato indicado por Bolsonaro.

Nas eleições municipais do Rio em 2020, Jair Bolsonaro apoiou Marcelo Crivella como candidato a prefeito | Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

O que aconteceu em 2020 com Crivella pode, eventualmente, acontecer com Ricardo Nunes em 2024. Eu sei que não é isso o que muitos ativistas de direita gostariam que eu dissesse. Lamento.

É importante perceber o que isso significa: não se trata de contestação da liderança de Jair Bolsonaro. Na verdade, é uma demonstração de que o eleitor de direita é consciente. Ao contrário do que dizem alguns críticos, que muitas vezes chamam a direita de “gado”, a maioria dos eleitores conservadores e liberais tem plena capacidade de distinguir entre um político legitimamente de direita e um “direitista” hesitante e de conveniência.

A candidatura de Nunes foi determinada pelo partido, apesar da existência de candidatos mais identificados com a direita, como Ricardo Salles. Mas não basta uma decisão partidária para determinar o voto de uma grande massa de eleitores que ou os últimos anos sendo instruída no ideário da direita.

Além disso, aconteceu um fato novo.

De repente, do nada, surgiu na disputa um candidato aparentemente mais identificado com a direita do que Nunes. Percebam que eu disse “aparentemente”. Mas aparências são importantes em uma eleição. Vejam o que diz o estrategista político David Horowitz, no livro The Art of Political War and Other Radical Pursuits (p. 14):

“O símbolo mais importante é o candidato. É preciso perguntar: o candidato, na sua própria pessoa, inspira medo ou esperança? Os eleitores querem saber: o candidato é alguém que se importa com pessoas como eu? Será que eu gostaria de sentar ao lado dele em um jantar">“Nunca lhe prometi a Floresta Amazônica — Final”

6 comentários
  1. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Candidatos, sejam quais forem vivem de promessas e os eleitores de esperança.
    O grande problema brasileiro é que em pleno século XXI ainda temos o voto de cabresto.
    Nossa “república” com R”R minúsculo mesmo ainda não foi proclamada, apenas anunciada e com seus quase 135 anos ainda procura o caminho a seguir, mas para isso precisamos de candidatos e eleitores melhor preparados e sem a mão grande do STF/TSE.

  2. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Espero que os paulistanos se unam para o principal objetivo, impedir a vitória do vagabundo chamado Guilherme Boulos.

  3. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Existe uma diferença entre EUA e Brasil antes da quinta revolução industrial. Ela tá mais hoje e da última eleição de Obama. O mais relevante agora é saber que o TSE o STF não tem nenhuma confiança para garantir eleição, todas são fraudadas. A eleição só é limpa como é na França. Estou tocando só no escrutínio

  4. Elias José de Souza
    Elias José de Souza

    Parabéns Mota, belo Artigo. Você tem razão com relação a frase de efeito: O Lula ganhou a eleição em 2022 prometendo apenas cerveja e picanha.

  5. NILSON OCTÁVIO
    NILSON OCTÁVIO

    Concordo com o comentario do Robson e acrescentaria: …e no Nunes.

  6. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Espero que os eleitores paulistas escolham o melhor candidato. Se não votarem no Boulos já fizeram um bom trabalho.

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