Quanto tempo vai levar até pendurarem uma placa de papelão no pescoço de Kemi Badenoch, à moda Revolução Cultural, para que o mundo saiba que ela ainda não viu Adolescência?
Estamos chegando a esse ponto. Primeiro, Nick Ferrari, da LBC, acusou-a de “descumprimento do dever” por não ter assistido ao drama da Netflix. Em seguida, o apresentador James O’Brien disse que é “impensável” que ela tenha “desviado dessa série”. E agora a BBC a está interrogando. “Você já viu Adolescência?”, questionaram os apresentadores em tom macartista na semana ada. “Não”, respondeu a pecadora. Rápido! Raspem a cabeça dela, levem para a praça pública e façam a herege que não viu Adolescência desfilar diante dos olhos dos apopléticos!
Está ficando ridículo. Existe uma guerra comercial, existem guerras reais e crimes reais — gangues de estupro, lembram? — e, mesmo assim, a BBC acha que a coisa mais urgente para perguntar à líder da oposição britânica é sobre um programa de TV. A inquisição aconteceu no BBC Breakfast. “Você viu Adolescência finalmente?”, perguntou o apresentador Charlie Stayt. “Finalmente”. A forma truculenta de dizer essa palavra não deixa dúvidas: qualquer um que queira fazer o jogo das elites precisa se submeter, inevitavelmente, e absorver esse drama sagrado.
Quando Badenoch disse que não havia assistido à série — e, para piorar a blasfêmia, que provavelmente não ia assistir —, a outra apresentadora, Naga Munchetty, pareceu pronta para pegar água benta. Mas é sobre “masculinidade tóxica”, gritou ela. E o “uso de celulares”. “Por que você não quer saber sobre o que as pessoas estão falando?”, ela questionou com exasperação sacerdotal. A resposta de Badenoch foi excelente. “Não preciso assistir à série Casualty para saber o que está acontecendo no NHS”, respondeu ela.

A caça às bruxas contra Badenoch no começo do mês pela transgressão moral de não assistir a uma série da Netflix foi um espetáculo verdadeiramente louco. E confirma que Adolescência se tornou uma espécie de tratado neorreligioso para o establishment cultural. Para eles, é mais do que uma série dramática de TV — é uma revelação divina, que abre os olhos da humanidade para as pragas pecaminosas do nosso tempo, especialmente para a masculinidade tóxica. Abster-se é um sacrilégio. É “impensável”, como disse O’Brien, o sumo sacerdote da elite idiota.
Há uma deliciosa ironia no fato de tudo isso ir parar no altar da série. Trata-se de um drama que explora o contágio cultural das bobagens da machosfera e o impacto que elas podem ter em meninos como Jamie, o garoto de 13 anos no centro da história, que comete um crime terrível. No entanto, a série deu origem ao seu próprio contágio cultural, que faz todo aquele “lixo do Andrew Tate” parecer menor.
Um por um, os formadores de opinião britânicos se curvaram ao evangelho de Adolescência. É a “perfeição completa”, afirmou o The Times. É uma “[série de] TV tão poderosa” que “pode salvar vidas”, declarou o Guardian. Essa é a salvação, crianças! Deveria ser exibido nas escolas, diz Keir Starmer, para tirar os meninos do poço infernal da masculinidade. O culto a Adolescência me assusta mais do que o culto a Tate. Os adolescentes que conheço têm um ceticismo saudável em relação a esse misógino desprezível. Para uma doutrinação de fato, para ver como as pessoas podem se tornar delirantes quando se curvam sem pensar a falsos ídolos, não é preciso procurar os adolescentes que navegam pela parte ruim da internet, e sim esses fanáticos proselitistas das salas de aula de Oxford e Cambridge que sonham que uma ficção pode salvar nossas almas.

Agora, graças à perseguição a Badenoch, sabemos quais punições podem ser esperadas por aqueles que rejeitam as revelações de Adolescência. O fato de ela não ter visto a série se transforma em manchete. “Kemi Badenoch revela que não assistiu a Adolescência”, afirma uma delas. Se você “se importa minimamente com os temas correntes”, precisa assistir a essa série, diz O’Brien, como se fosse a lei do país. Talvez um dia seja. Se você pode pegar 31 meses na cadeia por fazer uma postagem repugnante, o que impede o mesmo de acontecer se disser “não vou ver essa porcaria” sobre Adolescência?
Toda essa conversa sobre “assuntos correntes” está me enlouquecendo. Munchetty disse a Badenoch que ela precisa assistir à série se quiser “saber sobre o que as pessoas estão falando”. Quer saber sobre o que as pessoas estão falando, Naga? “Gangues de aliciamento.” Essas gangues de muçulmanos, a maioria paquistaneses, que exploram e estupram meninas brancas de classe baixa nas cidades de todo o país há décadas. De novo, o governo falhou em relação às vítimas desses crimes doentios, desta vez ao dizer que talvez as investigações prometidas não prossigam. E você quer que todo mundo fale sobre um crime que alguém inventou?
O fato de os apresentadores da BBC terem interrogado Badenoch sobre Adolescência um dia depois de o governo ter dito que não abriria inquéritos sobre as “gangues de aliciamento” é inacreditável. Nada revela melhor a indiferença aristocrática da BBC, seu desrespeito mundano pelas nossas preocupações, do que o fato de ela ter questionado Badenoch sobre um crime fictício no dia em que todos nós estávamos falando sobre os crimes reais cometidos contra meninas de classe baixa na cara de funcionários impiedosamente descuidados. Se uma agressão fictícia sofrida por uma garota fictícia incomoda mais do que os horrores sofridos por essas garotas reais, você está perdido. Sua nova religião deixou você insensível.

É nessa situação que nos encontramos. Discutir as gangues de estupradores reais é ferozmente desencorajado, enquanto lamentar um crime inventado em uma série da Netflix está na moda. As elites se refugiam em um mundo de fantasia de meninos perigosos para evitar os problemas do mundo real de tensão multicultural e mal-estar social. Elas se sentem mais confortáveis em apontar o dedo cheias de virtudes para um garoto que não existe do que em lidar com as verdades desconcertantes do Reino Unido do século 21. Assista Adolescência ou não assista — tanto faz. Mas o culto a Adolescência? Que comece a blasfêmia.
Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Seu novo livro, After the Pogrom: 7 October, Israel and the Crisis of Civilisation, foi lançado em 2024. Brendan está no Instagram: @burntoakboy
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Eu pretendia assistir, perdi a vontade
Hoje em dia só interessa ficção científica e se for bem feita. Qualquer filme que tenha um celular na mão do ator não presta, só presta os antigos
eu assisti dois capítulos achei um porre e fui procurar coisa melhor para assistir
É uma gentalha que quer se intrometer na vida alheia, sem sequer dá conta de cuidar da própria.
SENSACIONAL…
É vulgar , infantil e de total ausência cultural julgar pessoas pelo que assistem ou não nessa porcaria de TV, Cinema ou seja lá o que for que exiba o que interessa 🤮 ao Sistema!!
Não assisti esse espetáculo, nem pretendo assistir…
Está na.moda execrar quem não assistiu a série adolescência ou o filme “ainda estou aqui “.Ninguém pode obrigar alguém a nada,você escolhe o que quer ver ou ler.Acho que o pensamento e escolhas ainda são livres.
Enquanto estão preocupados se a criatura assistiu ou não a “Adolescência”, o nome masculino mais utilizado para batizar bebês no Reino Unido, em 2023, foi Muhammad.
pobre do povo que se deixam levar por essas narrativas esquerdopatas nojentos…
NÃO tenho dó de venezuelanos, de argentinos, de cubanos, nicaraguenses, mexicanos, ses, ingleses e californianos alemães, espanhois… etc…
quanto ao BOSTIL… fujam o mais rápido possivel… esse pais não há futuro digno.