Por que exatamente Anthony Fauci e seus colegas estavam tão ansiosos para culpar os morcegos pelo SARS-CoV-2 e, depois, os pangolins em mercados úmidos? Não era só para desviar a atenção da possibilidade de o novo vírus ter vazado de um laboratório em Wuhan que fazia pesquisas de ganho de função. Havia um objetivo maior: reforçar uma narrativa muito importante sobre contágios interespecíficos, ou spillovers, zoonóticos.
É um termo pomposo que se refere a um tipo de foco granular que desencoraja a opinião de leigos. Deixem isso para os especialistas! Eles sabem do que estão falando!
Vamos olhar mais de perto.
Há muitos anos, tem surgido uma ortodoxia emergente nos círculos epidemiológicos de que os vírus estão indo dos animais para os seres humanos com uma frequência cada vez maior. Essa é a questão principal, a alegação central, que raramente é contestada. Ela é muito repetida na literatura sobre esse assunto, assim como as alegações sobre o clima em outra literatura.

O modelo funciona assim:
Etapa 1: afirmar que o contágio interespecífico está aumentando por causa da urbanização, do desmatamento, da globalização, da industrialização, da combustão interna que emite carbono, dos animais de estimação, do colonialismo, das dietas nojentas, das saias mais curtas, de qualquer coisa que você seja contra ou de alguma combinação amorfa de todos os itens acima. Seja como for, é algo novo e está acontecendo em um ritmo cada vez mais acelerado.
Etapa 2: observar que somente os cientistas compreendem plenamente a gravidade da ameaça que isso representa para a vida humana, então eles têm uma obrigação social de se antecipar a essa tendência, o que requer pesquisas de ganho de função para misturar e fundir patógenos em um laboratório para ver quais deles representam as ameaças mais imediatas à nossa existência.
Etapa 3: para nos protegermos totalmente, é preciso usar todas as tecnologias mais recentes, incluindo — e especialmente — aquelas que permitem a produção rápida de vacinas que possam ser distribuídas no caso das pandemias inevitáveis que estão por vir, e provavelmente já estão quase aqui. Acima de tudo, isso requer testar e aperfeiçoar vacinas de mRNA que inoculam a proteína spike por meio de nanopartículas lipídicas para que possam ser impressas e distribuídas à população de forma ampla e rápida.
Etapa 4: enquanto a sociedade aguarda ansiosamente o grande antídoto para o vírus mortal que chega até nós por meio desses contágios interespecíficos terríveis, não há outra opção a não ser adotar medidas de saúde pública sensatas, como restrições extremas à sua liberdade de viajar, istrar uma atividade comercial e se reunir com outras pessoas. O objetivo principal é o monitoramento e a contenção de doenças. O alvo principal são aqueles que se comportam como se ainda existissem anacronismos como liberdade e direitos humanos.
Etapa 5: esses protocolos devem ser aceitos por todos os governos, afinal, vivemos em um cenário globalista no qual, em caso contrário, nenhum patógeno pode ser contido. Não se pode permitir que nenhuma nação siga seu próprio caminho, pois isso colocaria o todo em risco. Estamos todos juntos nessa.
Se essa forma de pensar parecer surpreendente, ridícula e assustadora, você claramente não participou de uma conferência acadêmica sobre epidemiologia, de uma feira de negócios para empresas farmacêuticas ou de um grupo de planejamento que fornece informações para as Nações Unidas e a Organização Mundial da Saúde.

Essa é a sabedoria convencional em todos esses círculos, nada incomum nem estranha. É a nova ortodoxia, amplamente aceita por todos os especialistas na área.
A máquina de fazer fumaça
A primeira vez que ouvi falar dessa teoria completa foi em um artigo de David Morens e Anthony Fauci publicado na revista Cell em agosto de 2020. Escrito durante os lockdowns que os autores ajudaram a implementar, o texto refletia o tom apocalíptico da época. Os autores afirmaram que a humanidade deu uma guinada ruim há 12 mil anos, fazendo com que vidas idílicas enfrentassem uma miríade de infecções. Não podemos voltar a um paraíso rousseauniano, mas podemos batalhar para “reconstruir as infraestruturas da existência humana”.
Obviamente, fiquei atônito, reli o artigo com atenção e me perguntei onde poderiam ser encontradas as evidências desse grande contágio interespecífico — a afirmação empírica crucial do artigo. Eles citam muitos artigos da literatura da área, mas, quando os analisamos mais a fundo, encontramos apenas modelos, afirmações, alegações baseadas em vieses de teste e muitas outras observações incompletas.
O que encontrei foi uma máquina de fazer fumaça.
Veja bem, tudo gira em torno dessa questão. Se os contágios interespecíficos não estiverem aumentando, ou se forem apenas uma parte normal da complicada relação entre os seres humanos e o reino microbiano que coabitam com todos os seres vivos, toda a agenda política desmorona.
Se os contágios entre espécies não forem um problema urgente, a justificativa para o ganho de função se esvai, assim como a necessidade de financiamento, a pressão pelas vacinas e os esquemas malucos de lockdown até que o antídoto chegue. É a etapa crucial, que na maioria das vezes ou despercebida pela atenção pública séria, mas que é quase universalmente aceita no domínio do que hoje é chamado de saúde pública.

Um sujeito cita o outro
Quem está contestando isso? Acaba de ser publicado no Journal of Epidemiology and Global Health um artigo extremamente importante intitulado “Natural Spillover Risk and Disease Outbreaks: Is Over-Simplification Putting Public Health at Risk?” (“Risco de Transmissão Natural e Surtos de Doenças: a Simplificação Excessiva Está Colocando a Saúde Pública em Risco">“A ruína das viagens de avião”
$aude com $ sifrão. É esse o interesse de toda essa gente que aloprou na pandemia.
Esse cara tá escrevendo para ET, minha mente primitiva não alcança. Interdisciplinar?Infra estrutura humana?, entre outras pra mim é javanês