Os ódios da Idade das Trevas lançaram sua sombra sobre a Grã-Bretanha mais uma vez. No dia 19 de abril, em Essex, pessoas provocaram judeus com bebês mortos. Elas carregavam bonecas em mortalhas manchadas com sangue falso e gritavam “Parem de matar bebês!” enquanto famílias voltavam da sinagoga para casa após as orações do Shabat para a Páscoa. Em Edimburgo, também no sábado, homens raivosos expressaram abertamente o sonho de executar bruxas. “Tragam de volta a queima de bruxas… JK”, dizia um cartaz em uma manifestação trans. A sugestão era tão clara quanto doentia: pelo crime de acreditar na biologia, JK Rowling deveria ser amarrada a uma estaca e queimada. Outro cartaz reforçava a ideia: “Matem JK Rowling”.
O ano é 2025, e estamos testemunhando a humilhação pública de mulheres e judeus, sua provocação com calúnias e ameaças. Em Essex, a calúnia medieval que condenava judeus como assassinos de bebês, como se tivessem um fascínio nefasto pelo sangue de inocentes, ganhou um novo fôlego. Imagens de devotos ativistas “pró-Palestina” marchando diante de judeus ortodoxos enquanto carregavam bebês manchados de sangue deveriam provocar calafrios na espinha de todos os que conhecem a história do ódio aos judeus. Em Edimburgo, manifestou-se o desejo do julgamento de bruxas. O grito ecoou: arrastem essas vadias que negam a feminilidade dos homens e as castiguem com fogo por seu desrespeito.
No mesmo dia, no Reino Unido, em nossa era supostamente iluminada, o libelo de sangue e a caça às bruxas voltaram à vida pública. Os judeus, mais uma vez, se viram cercados por sussurros doentios e sombrios sobre o assassinato de bebês. As mulheres, mais uma vez, se viram condenadas por bruxaria. Precisamos falar sobre isso. O fato de duas causas supostamente “progressistas” — o apoio à Palestina e o apoio aos direitos das pessoas trans — poderem reacender essas intolerâncias pré-modernas, essas histerias antigas, é alarmante e revelador. Sábado 19 de abril pode ter sido o dia em que aprendemos quanto a política identitária pode ser ameaçadora para a civilização.

Todas as manifestações “políticas” do sábado de Páscoa foram espetáculos grotescos. Foi em Westcliff-on-Sea, em Southend, Essex, que os manifestantes “pró-Palestina” se reuniram. Essa é uma parte de Essex com uma população judaica significativa. E era sábado. E era Páscoa também. Mas isso não impediu os israelófobos. Para o horror dos moradores locais, eles protestaram contra o “ataque” de Israel a “bebês adormecidos”. Eles agitavam seus bonecos sujos de sangue no rosto dos espectadores. E acusavam de forma barulhenta a nação judaica de destruir “o local de nascimento de Jesus”, chegando perigosamente perto de reavivar a imagem do assassino de Cristo, o judeu como destruidor dos messias.
Que se dane a decência
“Mesmo para os padrões do último ano e meio, a manifestação de Southend foi desprezível”, disse um porta-voz da Campanha contra o Antissemitismo (CAA). Os gritos sobre a matança de bebês, junto com a imagem fúnebre de bonecas envoltas em mortalhas, representaram um “eco arrepiante dos libelos de sangue medievais”, declarou a CAA. Faz quase 900 anos que a calúnia doentia do judeu sanguinário surgiu em Norwich, na Inglaterra. É profundamente vergonhoso, intolerável na verdade, que os judeus da Inglaterra mais uma vez tenham que negociar com multidões gritando sobre a matança de crianças e agitando mortalhas ensanguentadas.
Quanto às manifestações “trans” de 19 de abril — em Londres, Manchester e Edimburgo –, foram orgias de misoginia maldisfarçadas de direitos civis. Elas foram convocadas em reação à decisão da Suprema Corte sobre a definição legal de mulher. Os manifestantes expressaram fantasias de urinar e defecar nas mulheres e, se isso não as trouxer à submissão, matá-las. “Adoro mijar nas TERFs”, dizia um cartaz [TERF é a sigla para “feminista radical transexcludente” — em inglês, “trans-exclusionary radical feminist” —, usada para descrever feministas que rejeitam a ideia de que mulheres trans são mulheres]. Outro sugeria que as pessoas “cagassem… na cabeça de outra TERF”. “A única TERF boa é uma TERF _ _ _ _ _” era um slogan comum, junto com a imagem de um boneco de palito sendo enforcado. Eu gostaria que se decidissem: querem queimar as mulheres vivas ou enforcá-las?
Os manifestantes deixaram clara sua intenção de invadir os espaços das mulheres. “Nós mijamos onde queremos”, dizia um cartaz em Manchester. “Depois desse protesto, vou usar um banheiro feminino, depois vou usar outro banheiro feminino”, afirmou uma “mulher trans” em Dundee. Então você é um sujeito que vai marcar seu território? Que vai mijar onde quiser para demonstrar seu domínio sobre as mulheres? Essas foram demonstrações grosseiras de supremacia, não marchas “progressistas”. Os ativistas trans prometeram invadir áreas exclusivas para mulheres; os ativistas “pró-Palestina” fizeram suas calúnias contra Israel em uma área bastante judaica. Toda sensibilidade moral se viu pisoteada pela bota de seus impulsos narcisistas. Que se dane a decência — os ativistas trans vão defecar onde as mulheres estiverem, e os ativistas palestinos vão gritar onde os judeus estiverem.

O monstro que a cultura woke criou
Para mim, uma das cenas mais assustadoras desse dia de ódio foi quando ativistas pelos direitos das mulheres em Sheffield foram informadas pela polícia de que exibir a bandeira das sufragistas poderia ofender. Você sabe que está na companhia de misóginos quando agitar a bandeira da libertação das mulheres é um ato arriscado. O que me fez lembrar da ocasião, no ano ado, em que policiais de Edimburgo sugeriram que um judeu escondesse seu pingente com a Estrela de Davi para não “provocar” as pessoas em uma manifestação “pró-Palestina” que estava ocorrendo na cidade. “O senhor se importaria de esconder sua estrela dentro do moletom?”, perguntou um policial. São palavras que não podemos esquecer. Nunca devemos esquecer que na Grã-Bretanha, na década de 2020, um judeu foi aconselhado a disfarçar seu judaísmo para aplacar uma multidão de odiadores de Israel.
Esse é o monstro que a cultura woke gerou. Uma situação em que é perigoso agitar a bandeira das sufragistas ou usar órios judaicos. Uma situação em que você demonstra seu apoio aos direitos das mulheres ou sua existência como judeu por conta e risco próprios. E não é só no Reino Unido. Em todo o mundo anglo-americano, os direitos das mulheres e dos judeus são sacrificados no altar do identitarismo. Nos Estados Unidos, judeus são assediados nos campi universitários, mulheres são privadas de suas glórias esportivas. Na Austrália, templos judeus são incendiados, enquanto as mulheres que discordam do culto ao gênero são atacadas por multidões ferozes. As marchas de ódio de sábado no Reino Unido contra a segurança das mulheres e a segurança do Estado Judeu foram um testemunho da ressuscitação de ódios antigos na era woke.
Nada demonstra melhor que a cultura woke é um credo anti-iluminista que o terrível ressurgimento do libelo de sangue e da caça às bruxas. A rejeição da modernidade pela nova esquerda a levou cada vez mais para o centro dos desarranjos de uma era mais antiga. A adoção da ideologia pós-verdade de gênero levou à fogueira dos direitos das mulheres. A intoxicação pela israelofobia mais uma vez levou à difamação do povo judeu. Recomeça a luta pela dignidade das mulheres e pela segurança dos judeus. Recuperem as bandeiras sufragistas, chamem seus amigos judeus e vão para a rua.
Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Seu novo livro, After the Pogrom: 7 October, Israel and the Crisis of Civilisation, foi lançado em 2024. Brendan está no Instagram: @burntoakboy
Leia também “A podridão no cerne da israelofobia”
A Inglaterra pagará caro , assim como a França está pagando , pela Imigração IRRESPONSÁVEL.
Essa jumentada woke tem que ser extirpada, de preferência da terra.
Realidade aviltante e assustadora. Brilhante texto.
Realidade aviltante e assustadora. Brilhante texto.
A jumentaiada é universal que coisa hein!!!
Na minha opinião, a melhor definição para as esquerdas em geral, em especial desse tipo aí, é uma frase que considero fantástica, mesmo fora de contexto: “Tente de novo, fracasse de novo, fracasse melhor”. Samuel Beckett, escritor francês.
Ótima frase.
Texto elucidativo e bem redigido! Só há dois sexos: homens e mulheres. Fato.