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Balneário Camboriú, em Santa Catarina | Foto: Shutterstock
Edição 269

Como o Brasil seria — tão melhor — sem a volta de Lula

A esquerda como 'salvadora da democracia' foi uma narrativa insensata de um grupo de brasileiros — entre pretensiosos, mal-informados e bem pagos — que nos custou muito caro

Adalberto Piotto
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Tire a bagunça institucional predatória de Brasília por um momento da análise e fiquemos com o Brasil real. Coloque de lado, por um instante, essa Brasília do governo Lula e seus escândalos (em que agora até aposentados e os mais carentes são roubados), a falta de competência para governar, a incapacidade de istrar o país, o descalabro das contas públicas, o desmonte da elogiada diplomacia e da imagem do Brasil no exterior, os ideológicos e tolos ataques do presidente a Donald Trump — como um pretensioso garoto de recados de Putin e Xi Jinping (que querem evitar a todo custo problemas com os Estados Unidos) —, e Janja, a deslumbrada primeira-dama a quem hoje ele se curva. A defesa enfática que fez dela no caso do TikTok, depois do climão com o ditador chinês, é reveladora. Na entrevista depois do jantar, Lula assumiu para si a responsabilidade de reclamar da rede social ao líder chinês, do que fora descrito como um gratuito e grave incidente diplomático por fontes do próprio governo. Mas não só.

Desconfortável com a pergunta e dono de um governo que vê aliados abandonarem o barco, que só se sustenta pelo consórcio com a ala dura do STF, Lula dobrou a aposta: escancarou a sua prioridade em proteger Janja a qualquer custo, demonstrou falta de autoridade em denunciar a sua própria equipe com o vazamento do escândalo em um jantar e pediu ajuda pessoal de Xi Jinping para censurar a rede social no Brasil. No mesmo pacote, um atentado contra a soberania nacional na voz do próprio presidente que, nervoso, já não esconde a inépcia de seu governo e a sua própria. Lula pretendia voltar ao Brasil chamando para si os supostos louros da viagem à China. De volta ao país, descobriu que a permanente ditadura chinesa, pragmática que é, quer apenas a segurança alimentar que o competente, moderno e de direita agronegócio brasileiro propicia e acelerar um acordo comercial com os EUA. Para ele, Lula, sobrarão a foto com os piores ditadores do mundo em Moscou e as trapalhadas diplomáticas de sua primeira-dama.

Lula ao lado de ditadores | Foto: Divulgação
Lula ao lado de ditadores | Foto: Divulgação

Como “Janjo e Janja”, da criativa paródia do argentino Gustavo Segré, gastam tempo demais da vida nacional, fiquemos, ao menos por ora, com o Brasil real dos brasileiros que se dedicam diariamente a sobreviver enquanto esse governo de desgoverno não a. A eleição de 2022, tal como foi, com tudo o que a antecedeu, certamente deixaria marcas. Desde a estapafúrdia tese do CEP de Curitiba que devolveu Lula à vida política — um condenado por corrupção em três instâncias (três!) — até a hipertrofia do Supremo Tribunal Federal bombadão em suas prerrogativas autoconcedidas, aquilo tudo não poderia dar certo. E não deu! Até porque, ao mesmo tempo e medida, o Congresso se encolhia por medo, omissão e interesses. O resultado foi que o país sofre hoje de falta de gente competente no Palácio do Planalto e na Esplanada, é obrigado a conviver com muita gente sobressalente em seus limites constitucionais no Judiciário e carece de congressistas para conter tudo isso. A oposição de fato, que cada vez mais denuncia os desvios e abusos, ainda é minoritária em votos na Câmara e no Senado, embora a maioria no país.

Enfim, é contra tudo isso que o Brasil dos brasileiros que trabalham luta. E insiste, cada um a seu modo e com os recursos que tem. Fato é que temos hoje o que se poderia chamar de sensações mistas em relação à economia. Há o pessimismo atual de fatos incontroversos do lulopetismo ao lado de um otimismo do setor privado baseado num ado próximo promissor ou contratado para o futuro. Explico.

A notícia do último fim de semana foi o lançamento do projeto do maior edifício residencial do mundo, em Balneário Camboriú, em Santa Catarina, com 550 metros de altura. O residencial de luxo é uma parceria entre a FG Empreendimentos, a marca Senna — da família do tricampeão mundial de Fórmula 1 Ayrton Senna — e o grupo Havan, do empresário Luciano Hang. Com vendas na planta que já somam R$ 1,3 bilhão, o empreendimento, que deve levar entre sete e dez anos para ficar pronto, tem potencial de atingir R$ 8,5 bilhões em negócios e mira clientes do exterior e das Regiões Sul e Centro-Oeste como principais compradores.

Vista aérea de Balneário Camboriú | Foto: Shutterstock

E essa fé no Brasil do futuro tem números e informações que são autoexplicativas, a começar pelo tempo da obra até a inauguração. Em 2032 ou 2035, o país já estará livre do atual governo que, ao que tudo indica, deve ser defenestrado pelos eleitores já na eleição do ano que vem. A esquerda como “salvadora da democracia” foi uma narrativa insensata e deletéria de um grupo de brasileiros — entre pretensiosos, mal-informados e bem pagos — que nos custou muito caro. Fato é que a construção civil trabalha com cenários de longo prazo, que peram governos. E o tempo não aproveitado agora pode atrasar uma obra que, quando pronta, estará sob outro cenário político-econômico, provavelmente mais promissor. Tempo é dinheiro que não se pode perder. No cálculo desses lançamentos também é levado em conta que o grupo de clientes potenciais vem de regiões do país cujos Estados são governados pela oposição, com clara adoção de economia de mercado, meritocracia, baixa intromissão estatal e eficiência das políticas públicas, além de serem economias internacionalizadas que conseguem contornar, em parte, os solavancos das decisões locais. O próprio empreendimento Senna Tower se propõe a isto: atrair interessados de fora ao associar a marca Senna e mirar milionários que veem na cidade de Balneário um pedaço do Brasil de belezas naturais que deu certo, um porto de segurança pública, valorização do investimento e glamour, no melhor estilo de vida do jet set internacional. De certa forma, é a tropicalização de Mônaco ou de Miami made in Brazil, eficiente e longe da Brasília de cabeça atrasada e da insegurança jurídica.

O megaedifício de Camboriú chama atenção pela imponência do projeto, mas não é o único. O mercado imobiliário brasileiro não para de construir. Em 2024, só a cidade de São Paulo entregou 818 novos condomínios, muitos de alto padrão. Todos começaram ainda nos governos anteriores, de recuperação depois da catástrofe econômica das gestões petistas. Era um tempo de confiança na economia que hoje enfrenta problemas com crédito escasso e caro a compradores assalariados. Por sua vez, o contínuo investimento na construção civil permanece apostando no tempo e na eleição de 2026. Lá na frente, tudo pode mudar novamente e a favor do Brasil que gera emprego, renda, recolhe impostos e aquece a economia. Tão verdadeiro quanto o outro, que sufoca a maioria da população com inflação, rombos fiscais, escândalos do INSS, enriquecimento de sindicalistas e artistas associados ao governo, que convive com a perda de qualidade nos serviços públicos de educação e de saúde e faz a vida da maior parte dos empreendedores um inferno. Tanto que, somente no ano ado, em 2024, houve um aumento de quase 62% de empresas que recorreram à Justiça para evitar a falência, a maioria de micro e pequenas, justamente as que mais empregam. No início deste ano, apenas no primeiro trimestre de 2025, os pedidos de recuperação judicial cresceram outros 7%. As coincidências de dificuldade para as empresas nestes dois anos resumem a ineficiência da gestão atual, justamente para quem não consegue se blindar da realidade trágica de curto prazo da política econômica de Lula e Haddad.

Pacote corte de gastos; governo lula
Presidente Lula e Fernando Haddad, ministro da Fazenda | Foto: Reprodução/Agência Brasil

E, nesse caso, falamos do retrocesso de um Brasil que vinha dando certo até a eleição de 2022. Mesmo com pandemia e um Supremo que tolhia a istração federal com seus imparáveis e anormais pedidos de explicação, no último ano do governo de Jair Bolsonaro houve redução de 6,5% nos pedidos de recuperação judicial, segundo a Serasa Experian. Um tempo marcado pela política liberal do ministro Paulo Guedes que reduziu o tamanho do Estado, da burocracia e também dos impostos. Não apenas isso. A rápida retomada do país com ambiente favorável aos investidores, dos pequenos aos grandes, atraiu o capital estrangeiro com aumento de 70% no investimento externo direto (IED) e gerou crescimento sustentável da economia doméstica com superávit público de R$ 54 bilhões, depois de oito anos de contas no vermelho. Foi um tempo em que o Brasil chamou a atenção do mundo por ser modelo de recuperação sustentável da economia após um dos mais desafiadores momentos da história da humanidade, os dois anos da pandemia de covid-19.

Até que as eleições alterem o quadro atual, a economia, sempre que puder e conseguir, tentará se dissociar da política ruim. No Brasil, é porque investidores, empreendedores e trabalhadores decidiram abraçar o país. Porque mantêm a crença inabalável de que isso tudo de ruim que está aí, uma hora, vai ar.

Leia também “Quando o STF vai soltar a mão de Lula?”

9 comentários
  1. Manfredo Rosa
    Manfredo Rosa

    Prezado Piotto. Tenho dúvidas. Por favor, entre aqueles que mandam efetivamente, o que mudou em relação a 2022 para se pensar que o atual governo possa ser defenestrado em 2026?

  2. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Ótima abordagem Piotto.
    “Brasileiro, Profissão: Esperança” musical escrito por Paulo Pontes em 1971 representa a alma e o otimismo deste povo que é massacrado todos os dias.
    Resistimos aos governos Lula1, Lula2 e o Lula disfarçado de Dilma. Mesmo chamuscados sobrevivemos.
    Nas próximas eleições, se forem limpas, com renovação de 2/3 do Senado talvez possamos ter uma maioria que vire a chave desta instituição. Basta o processo de impeachment de apenas um Ministro para o Brasil começar a a sair da UTI e retornar à vida normal.

  3. Denis R.
    Denis R.

    Espero que sem interferência do STF e com a pressão Norte Americana por eleições limpas consigamos eleger bons representantes!

  4. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Maioria no Senado para impeachment de Barroso ou Moraes. E mudança no STF com maioria favorável.

  5. Ana Cláudia Chaves da Silva
    Ana Cláudia Chaves da Silva

    Com certeza, vai ar. Afinal, não há mal que dure para sempre.

  6. Silas Veloso
    Silas Veloso

    Excelente análise de nosso desgoverno esquerdoso

  7. Osmar Martins Silvestre
    Osmar Martins Silvestre

    Talvez em 2026 o Brasil retome o rumo que os atuais mandatários do lula/stf resolveram destruir. Talvez. Vamos ter que combinar com as urnas eletrônicas e o insondável sistema de apuração. Não podemos nos esquecer que os mesmos atores que pam o lula de volta na cena do crime (segundo o vice presidente disse) estarão todos vagando por aí, empoleirados no poder. Eles quiseram que o Brasil trilhasse o caminho que está tomando. Sabiam o que queriam. Por que haverá de ser diferente em 2026?

    1. Manfredo Rosa
      Manfredo Rosa

      Prezado Omar. “O insondável sistema de apuração”. Você é o primeiro que tenho conhecimento de indicar o ponto crucial. Batem na tecla de que as urnas são invioláveis. Podem até ser, interessa que elas cumpram o papel do “parecer social”, ou seja, o que querem que as pessoas vejam. Mas.. depois … (censurado pela democracia).

  8. NILSON OCTÁVIO
    NILSON OCTÁVIO

    Saudades do pais arrumadinho do governo anterior

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