Em 14 de janeiro de 2025, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) publicou em suas redes sociais um vídeo de 4 minutos e 13 segundos em que aparece sentado numa banqueta, vestindo calça jeans e camiseta preta. O cenário também é escuro, de estética minimalista. A câmera se aproxima ou se afasta conforme o tom e o tema da fala. Algumas imagens pontuais surgem na tela, ilustrando o conteúdo.
Até 13 de maio, terça-feira, o “vídeo do Pix” contabilizava mais de 330 milhões de visualizações no Instagram. Além do sucesso viral, a postagem atingiu dois objetivos centrais. Primeiro: aumentou notavelmente a impopularidade do plano de monitorar transações via Pix acima de R$ 5 mil por mês, no caso de pessoas físicas, e R$ 15 mil mensais, no caso de jurídicas. Segundo: precipitou a morte da “esperteza”. O governo desistiu da ideia dois dias depois.
A fórmula voltou a funcionar em outras duas ocasiões. Em 13 de abril, o vídeo de sete minutos em que Nikolas explica a importância de anistiar os presos do 8 de janeiro conseguiu mais de 50 milhões de visualizações. Já com o vídeo publicado no dia 6 de maio, em que detalha o escândalo do INSS, o deputado alcançou cerca de 140 milhões de os em menos de dez dias.
Tirando a captação das imagens, Nikolas faz toda a produção praticamente sozinho — e sem usar um único centavo dos pagadores de impostos. Só com o vídeo do Pix, o parlamentar de 28 anos conquistou mais 2 milhões de seguidores no Instagram, ultraando Lula na plataforma: 13,5 milhões ante 13,3 milhões, respectivamente. Jair Bolsonaro tem 26,6 milhões de seguidores.

Para tentar conter o que o jornalista Alexandre Garcia batizou de “tsunami democrático”, o governo escalou Lindbergh Farias, também deputado federal (PT-RJ). Hoje sessentão, o ex-cara-pintada até tentou copiar Nikolas na maneira de se vestir e na montagem do cenário. O resultado foi catastrófico, sobretudo quando comparado ao original: menos de 930 mil visualizações no Instagram.
Na semana seguinte, o Planalto destinou R$ 50 milhões de dinheiro público à campanha “Pix: Seguro, Sigiloso e Sem Taxa”. Objetivo: “Combater a onda de desinformação que circula sobre a suposta taxação do sistema de pagamento instantâneo”. A peça publicitária foi elaborada por Sidônio Palmeira, que em janeiro deste ano substituiu Paulo Pimenta na Secretaria de Comunicação Social (Secom).
Formado em engenharia, Sidônio ganhou fama de bom estrategista político depois de participar das campanhas vitoriosas de Jaques Wagner e Rui Costa, candidatos ao governo baiano. Em 2022, coordenou a campanha de Lula e, em seguida, ou a atuar como conselheiro informal do presidente. Ao nomeá-lo para a chefia da Secom, o Planalto pretendia conter a crescente desaprovação do governo nas pesquisas de opinião. O resultado, até o momento, é igual a zero.
Em abril, quando Sidônio completou três meses no cargo, a média de interações de Lula por postagem recuou 10%, de acordo com um estudo da Bites, empresa especializada em análise de dados. Em contrapartida, aliados de Jair Bolsonaro cresceram expressivamente nesse quesito. Entre eles o próprio ex-presidente (alta de 34%), o senador Flávio Bolsonaro (84%) e Nikolas Ferreira (50%). Também registraram alta significativa os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (67%), de Minas Gerais, Romeu Zema (64%), e de Goiás, Ronaldo Caiado (17%).
Experiente em campanhas publicitárias tradicionais, Sidônio não tem tanta intimidade com um veículo de comunicação vital nesta terceira década do século 21: as mídias digitais. Caso se use como parâmetro sua própria “existência” nas redes sociais, o ministro da Secom pode ser considerado um analfabeto digital. Seu primeiro post na plataforma X, por exemplo, foi feito em 14 de janeiro de 2025, dia em que o vídeo do Pix viralizou. “Considero a política e a gestão pública como as únicas vias para a construção de uma sociedade mais justa”, escreveu.
No Instagram, sua postagem mais antiga foi feita em 4 de abril deste ano: um vídeo com o mote “O Brasil é dos brasileiros”. A estratégia de marketing segue o modelo das campanhas políticas que há décadas aparecem na televisão: muita gente, muitas cores, muitas imagens bonitas e frases de efeito. Exemplos: “O Brasil do menor desemprego da história” ou “Um país que está tirando um estádio lotado por dia do mapa da fome”. Sobram mentiras apresentadas como verdadeiras.
“A esquerda não acompanha a comunicação da direita porque está em dessintonia com a sociedade”, acredita o cientista político Fernando Schüler, professor no Insper. “Eles gastam muito dinheiro em mídia e vivem no mundo da artificialidade. O governo insiste em um discurso avesso à realidade.”
Para João Finamor, professor de marketing digital e mídias sociais na ESPM, “o governo estampa a linguagem da mídia tradicional, que expõe a artificialidade e compromete o nível de confiança do consumidor de informação”. A técnica usada por Nikolas Ferreira se ampara no aparente improviso. “A questão não é saber se é real, mas se o público vai entender o conteúdo como real”, afirma. Outra vantagem está no fato de Nikolas ser um nativo digital. “Ele sabe se comunicar explorando elementos que os algoritmos das plataformas reconhecem e, assim, impulsionam a mensagem espontaneamente.”
Schüler destaca o fato de Nikolas saber se conectar com as pessoas comuns. “Ele tem carisma, expõe juventude, singeleza e uma posição firme, sem projetar qualquer traço de agressividade e com uma linguagem simples, objetiva e didática”, observa. “Além disso, por mais que o governo tente contestar, em nenhum momento Nikolas produziu fake news. Ele expôs os fatos conforme sua visão política, mas os vídeos não mostram nenhuma mentira. Isso gera credibilidade.”
Segundo Bruno Scartozzoni, professor de storytelling na Faculdade de Informática e istração Paulista (Fiap), a comunicação de Nikolas é “um caso a ser estudado”. O impacto de seus vídeos pode ser atribuído a uma série de elementos que compõem a comunicação digital. Entre eles a linguagem simples (palavras fáceis e frases curtas), a narrativa audiovisual (a trilha de suspense faz parecer um episódio de crime verdadeiro que o público está acostumado a ver na Netflix) e o tom emocional. “Ele começa pelo sentimento, de revolta e indignação, para depois apresentar os dados”, afirma o professor. “Primeiro toca o coração, depois a razão. É psicologia pura.”
A deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) tentou seguir essa mesma receita para rebater Nikolas. Apesar da roupa branca e do fundo cinza, a trilha sonora é bastante similar, assim como o movimento de câmera e a forma como as imagens aparecem na tela. As visualizações, contudo, estacionaram em 105 milhões.
Apesar da montanha de dinheiro desperdiçado com publicidade, a repercussão que o governo federal alcança não supera nem a da deputada psolista. Para este ano, os investimentos previstos na área chegam a R$ 3,5 bilhões — valor 40% superior ao empenhado por Jair Bolsonaro. O montante inclui contratos celebrados por ministérios, estatais e bancos públicos, como o Banco do Brasil e os Correios, que empenhou R$ 380 milhões para serem gastos com propaganda, embora tenha registrado prejuízo de R$ 2,6 bilhões no ano ado.
As empresas selecionadas para gerir as redes sociais do governo federal são Usina Digital, Área Comunicação, Moringa L2W3 e Consórcio BR&TAL. Cada uma deve receber aproximadamente R$ 50 milhões pelo período contratual renovável de um ano. Essas agências têm por missão planejar, desenvolver e implementar soluções de comunicação digital, moderar conteúdo e perfis em redes sociais, criar e executar projetos, ações e produtos de comunicação e implementar formas inovadoras de comunicação digital.
Segundo os dados mais recentes, datados de 2023, a verba publicitária oficial é distribuída entre emissoras de televisão (56% do total), internet (14%) e outros meios, que englobam emissoras de rádio, veículos impressos, outdoors etc. (30%). A agência que mais recebe dinheiro do governo para a comunicação com um todo (digital e tradicional) é a Nacional Comunicação, cujo sócio, desde 2023, é o cientista político Juliano Corbellini, amigo do deputado federal Paulo Pimenta (PT), ministro da Secom até dezembro do ano ado.
O número de servidores vinculados à secretaria é superior a 2 mil profissionais. Um técnico em comunicação social, ou seja, que não tem graduação, recebe perto de R$ 13 mil — quase o triplo do que ganha um mesmo profissional no mercado privado. Só a campanha contra fake news, veiculada em 2023, consumiu R$ 20 milhões.
Apesar da dinheirama, boa parte das fake news propagadas no Brasil foi rebatida por postagens como as produzidas por Nikolas Ferreira. Como observou Alexandre Garcia, o que o deputado federal mineiro conseguiu com os vídeos do Pix, da anistia e do INSS foi a “demonstração mais clara da ágora digital” em que se transformaram as redes sociais.
Também por isso, Lula e seus aliados estão cada vez mais obcecados com a ideia de censurar as big techs. Nesta terça-feira, por exemplo, ao criticar o vazamento de uma conversa entre Janja e Xi Jinping sobre o TikTok, o presidente afirmou que não era possível “a gente continuar com as redes digitais cometendo os absurdos que cometem e a gente não ter a capacidade de fazer uma regulamentação”. Segundo Lula, Xi Jinping prometeu enviar um representante da ditadura chinesa para ensinar ao governo brasileiro como lidar com “o mundo digital”.
Em seu discurso de posse na Presidência dos Estados Unidos, Ronald Reagan fez uma afirmação hoje famosa: “A liberdade nunca está a mais de uma geração da extinção. Nós não amos a liberdade para nossos filhos na corrente sanguínea. Devemos lutar por ela, protegê-la e entregá-la para que façam o mesmo”. Dita em janeiro de 1967, a frase continua atualíssima.
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Mas em 1967, Presidente dos EUA, era Lyndon Johnson. Então a frase é dele ou o ano está errado.
Lula, Sidônio, Lindemberg e Érico Hilton tem três coisas em comum, ladrões, mentirosos e ridículos
Parabéns Branca Nunes e Fabio Boueri pelo artigo elucidativo.
Estas agências contratadas pela gangue petista não são agências de publicidade, mas sim agência de saque de dinheiro público!
Ele foi presidente de 20 de janeiro de 1981 a 20 de janeiro de 1989
Ronald Reagan, não foi empossado em 1967 ,ele era presidente nos anos 80. Acho que houve algum engano com a data.
Ronald Reagan, não foi empossado em 1967 ,ele era presidente nos anos 80. Acho que houve algum engano com a data.
Contra fatos não há argumentos nem dinheiro 💰 que vençam!! Os fatos são reais!
A melhor matéria que li desde o fenômeno Nickolas-pix.
E vamos juntos lutar pela nossa liberdade individual e de todos os brasileiros.
O PT pode gastar milhões, gasta mal e usa nosso dinheiro, mas mente sempre, ninguém acredita. Ignorância é com Lula.3, não sobra para ninguém.