Em outubro de 2024, durante uma sessão do Supremo Tribunal Federal, uma curta troca de frases entre Gilmar Mendes e André Mendonça avisou que não seria boa ideia colocá-los na mesma mesa no jantar daquela noite. Tal impressão foi emitida não pelo que disseram — até porque ambos frequentemente recorreram a um juridiquês impenetrável. Bem mais reveladores do que as palavras ditas foram o tom de voz (na fronteira da rispidez) e a ironia que discordava do meio sorriso. Ficou claro que o tema da conversa era a Confederação Brasileira de Futebol, vulgo CBF, permanentemente convulsionada pelo comportamento de dirigentes e frequentadores.
— Vossa Excelência entende de extravagâncias mais do que eu — disse na penúltima fala o decano do Supremo.
— Pode ter certeza que não, ministro Gilmar — retrucou Mendonça. — Pode ter certeza que não, porque quando eu me deparei com esses fatos… A impressão que dá é: resistiria a CBF a uma investigação?

A troca de farpas parou por aí. A sequência de “extravagâncias” — palavra que na linguagem dos ministros também se presta a designar alguma decisão ou ato fora da curva, discutível, duvidoso — cresceu em velocidade e ousadia. A mais recente, de novo arquitetada por Gilmar, foi ignorar o afastamento decretado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e manter Ednaldo Rodrigues na presidência da CBF.
(Antes que a disputa pelo comando da CBF fornecesse o pretexto para a entrada em campo do Timão da Toga, os supremos juízes haviam dado as caras no mundo da bola uma única vez desde o nascimento da Corte. Foi um desempenho bisonho. Incumbido de decidir em última instância qual time de futebol conquistara o título de campeão brasileiro de 1987, reivindicado pelo Flamengo e pelo Sport, o Pretório Excelso demorou 37 anos para concluir o caso. “A Segunda Turma decidiu por unanimidade que foi o Sport”, anunciou em maio de 2024 o ministro Dias Toffoli. Torcedores pernambucanos voltaram a festejar o que celebraram no século anterior. A decisão não foi acatada por um único e escasso flamenguista.)
Deve-se também registrar que, desde o primeiro apito inicial, a maioria dos cartolas do autodenominado País do Futebol nunca foi grande coisa. Mas a subespécie inaugurada com o nome de Ricardo Teixeira merecia abrir o desfile dos mais lastimáveis blocos dos cafajestes, tendo à frente o instabilíssimo Ednaldo Rodrigues. Quando a primeira palavra desta reportagem foi escrita, era ele o presidente da CBF. No segundo parágrafo, perdera o cargo. No sexto, fora substituído por Fernando Sarney, um dos vices de Ednaldo. No décimo, acabara de enviar um recurso ao Supremo pedindo a devolução do trono confiscado. Neste momento, enquanto reza para que a reivindicação seja julgada por Gilmar, espera uma ligação de Carlo Ancelotti para jurar ao perplexo técnico italiano que o contrato assinado há poucas horas vai ficar mais atraente assim que for resolvido o pequeno problema criado por desembargadores fluminenses mal-informados.

Ednaldo é o espécime mais recente do criadouro de obscenidades inaugurado por Ricardo Teixeira. No cargo entre 1989 e 2012, Teixeira infiltrou a entidade num conveniente limbo alojado entre o público e o privado. A rigor, os dirigentes dessas entidades nacionais obedecem às normas da Fifa. Essa sensação de impunidade explica por que presidentes da CBF agem com a desfaçatez de um fora da lei. A autoconfiança excessiva acabou induzindo Teixeira a protagonizar bandalheiras que o obrigaram a interromper o longo reinado.
Todos envolvidos em recebimento de propinas, enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e negociatas prodigiosas, os sucessores de Teixeira tropeçaram em tribunais tanto aqui quanto fora do Brasil. Foi o caso de José Maria Marin, capturado na Suíça em 2015 e engaiolado nos Estados Unidos. Marco Polo Del Nero, que comandou a CBF de 2015 a 2017, foi punido por corrupção e banido do futebol pela Fifa. Rogério Caboclo (2019-2021) foi despejado do emprego cobiçadíssimo por denúncias de assédio moral e sexual. Chegara a vez do baiano Ednaldo. Era ele o mais velho entre os vice-presidentes. Promovido, fez o diabo para mostrar-se mais esperto e mais moderno que todos os antecessores.

Ministro do STF, Gilmar Mendes também se convencera de que era hora de modernizar o Instituto Brasiliense de Direito Público, ou simplesmente IDP. Nascido em 1998, deveria limitar-se a estudantes de distintas áreas do Direito. Até 2016, foi financiado por grandes empresas, como a J&F, e estatais do porte da Caixa Econômica Federal. Em junho de 2017, Gilmar entregou a direção ao filho Francisco Mendes, o Chico. Sem descuidar de lucrativos seminários internacionais nem de eventos como o Gilmarpalooza, o herdeiro tratou de buscar sócios para a exploração de filhotes do IDP — e para empreendimentos que ampliassem o faturamento. Assim surgiu a CBF Academy, braço educacional da CBF istrado pelo IDP, responsável pela gestão e comercialização dos serviços oferecidos pelo fruto da parceria. Uma cláusula estipula que o IDP ficaria com 84% da receita — a CBF, com 16%. Em 2023, a receita foi de R$ 9,2 milhões.

Atento ao eleitorado, Ednaldo aumentou de R$ 50 mil para R$ 215 mil os rees mensais às federações estaduais, distribuiu donativos, agens aéreas e diárias em grandes hotéis, presenteou com diárias de marajá seus convidados especiais para a Copa do Catar. Depois de completar o mandato do titular destituído, manteve-se no cargo com o apoio de 100% do eleitorado. Duas vezes tentaram derrubá-lo. Duas vezes Gilmar recolocou-o no gabinete imenso.

Pagou R$ 5,7 milhões à vista a um advogado maranhense que obteve em um único dia um tipo de liminar que o tribunal leva ao menos 55 para examinar. Em dezembro de 2023, Ednaldo foi destituído pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Em janeiro, Gilmar determinou o retorno de Ednaldo ao cargo. Outras investidas contra o supercartola colidiram com a mesma barreira. Na mais recente, o relator deveria ser André Mendonça. O presidente Luís Roberto Barroso optou pelo sorteio. Deu Gilmar, claro.
Um acordo entre a CBF e as partes reclamantes no TJ-RJ, homologado por Gilmar em março de 2025, permitiu que Ednaldo disputasse a eleição cujo resultado deveria mantê-lo no comando até 2030. A esperteza derrapou nas evidências de que foi falsificada uma sem a qual não tem validade o acordo que permitiu a votação. O que fará o decano?
Em 1984, o Brasil foi dormir com Tancredo Neves pronto para a posse e acordou com José Sarney com a faixa presidencial no peito. “É o túnel no fim da luz”, resumiu Millôr Fernandes. Se não desistir do combinado, o técnico Carlo Ancelotti terá de trocar um Ednaldo por outro Sarney. Não há perigo de melhorar.

Leia também “Isto ou aquilo”
Eis a explicação para a mudança do vinho para a agua de Gilmar Mendes, seu rabo preso, que está nas mãos de alguém.
O beiçola é um escroque.
texto perfeito.!!
essa situação na CBF nada mais é do que o “retrato” atual de tudo o que acontece no Brasil em todas as áreas. especialmente na política.
é um “salve-se quem puder” danado.
como sabiamente diz um deputado federal … eu não quero morar fora do Brasil, eu quero um outro Brasil.
um Brasil diferente.
Pobre e Podre Brasil.
Todos bandidos, presidente da CBF, Gilmar Mendes, o filho dele. Sarney pai Sarney filho etc
.. etc
O Brasil trata suas instituições a ponta pés. Com a CBF embora sendo privada, não poderia e não será diferente.
A relação futebol x política, normalmente envolvendo futebolista e políticos corruptos sempre foi a toada da istração do futebol brasileiro.
Vamos continuar levando de 7 x 1 sempre.
só vergonha !! porque a FIFA não fecha essa porcaria da CBF? porque as federações e os clubes são tb corruptos como a CBF ou até mais?
Gilmar, Ednaldo, Sarney…Pobre seleção. Trocou o Canarinho por abutres.
Nessa organização em que se transformou o supremo, há também, além da boca, o beiço de veludo.
ambém, além
A RO tem se esforçado muito para ceder espaço a Gangsters, faltando espaço para debates do bem.
Aos poucos, a RO, vai se deixando cair na vala comum do submundo do crime.
Brasil da bola furada.
Nosso país precisa se livrar desses bandidos. Vejam só, os patrocínios do IDP. J&F (Friboi, Seara, Minuano,…) e Caixa Econômica. É escancarada a falcatrua!
essa composição do STF é um verdadeiro ninho de cobrasse e ratos ! NOJO dessa turma
Respeitemos as cobras e os ratos. São menos ofensivos.
Em qualquer país sério isto bastaria para se abrir um inquérito, a corrupção está escancarada neste episódio. Mas o boca de sapo dominou o país.
Por essas bandalheiras na cbf (letras minúsculas mesmo) que não assisto mais nada de futebol brasileiro. Só trouxa gasta tempo e dinheiro com essa bosta de cbf infiltrada de ladrões. A bandidagem está infiltrada em tudo. É o fim!
É cruel
Interessante ver o patrocínio das safadezas, podre está e mais ficará, com direito a chafurdar na lama, sem incomodar ou qualquer remorso, corpos sem alma…
Quando vão abrir a Caixa Preta
Quando vão abrir a caixa preta de Itaipu. Vai sair muito “Gilmar” de lá ou não?
de Itaipu. Vai sair muito ” Gilmar
Onde tem roubo lá está Gilmar Mendes
Família sarnei vive no mundo da corrupção!!! Gilmar toma decisões não republicanas!!!
Como nossas “otoridades” se conhecem bem … uma nação omissa, submissa e algoz de si nas indevassáveis urnas do Dr.Verboso onde “eleição não se ganha, se toma” jaz neste galinheiro fefibundo que ousam dizer república.
Existem pessoas que é só olhar a cara não tem como não suspeitar. Esse Ednaldo é assim e os que se aproximam dele sabem que podem se locupletar.
O Brasil d’antanho começou a ser explorado pelas Capitanias Hereditárias, com seus Donatários enriquecendo como nababos e respondendo apenas às Cortes portuguesas. A única coisa que mudou desde então, foi o nome dos Donatários. Estes continuam enricando nababescamente e respondem somente à Corte Excelsa. É assim que a colônia funciona.
Brasil… corrupção de norte a sul de leste a oeste é corrupção de manhã, a tarde, a noite, de madrugada. Todos os dias, semanas, meses, anos. Tínhamos tudo para sermos uma potência, um país rico, mas acho que fomos amaldiçoados, só tem corrupto/ladrão. Lamentável.
Imaginei que Gilmar só gostava de Barata kkkkkk
Imaginei que Gilmar só gostava de Barata kkkkkk
Imaginei que Gilmar só gostava de Barata kkkkkk
Como pode uma nação,ter tantos ladrões comungando da mesma cartilha,
Quando ficamos entre um Ednaldo e um Fernando Sarney, temos a exata noção do buraco de ratos que virou esse país.
Não é atoa que o Brasil é o paraíso da impunidade.
Esse governo é a mesma coisa de você anuciar um museu com obras de arte de Miguelâgelo e apresentar os bonecos de barro do mestre Vitalino de Caruaru
Triste Brasil. Essa turma sempre pousando de puritano e tomando decisões demoníacas. Se um dia acontecer, e como brasileiro e trabalhador acho pouco provável, temos que triplicar os presídios de segurança máxima pra comportar essa turma de BRASILIA.
Grande amigo
Show de bola !!!! Matéria matadora — mais uma.
Agora: não sei, sinceramente, se o tema CBF-IDP deveria ser tratado nas paginas da Oeste. Afinal , Isso aqui é uma revista lida nas famílias brasileiras. E se houver crianças na sala ? Tenha dó, diria o ministro Alexandre de Moraes.
boa Guzo, é mesmo caso de policia,,,,,,
Só um mestre para dar esse show de concisão sem derrapar em tanta ladroagem e corrupção.
Cirúrgico como sempre Augusto
Só rindo para não chorar
Aonde esse GM, mede o bico, tem sacanagem.
Num país co
mínimo de dignifade
Os donos do Brasil se metem em tudo.
O Brasil não tem dono, tem posseiros. E dá pior espécie.
seria cômico, se não fosse trágico.