Carta ao Leitor — Edição 270

Há mais de dois anos, Oeste repete diariamente que o Supremo Tribunal Federal faz o diabo para tornar real um golpe que não existiu. Que a corrupção é a marca registrada dos governos petistas. Que Lula, no terceiro ano do terceiro mandato, não tem uma única obra relevante para apresentar. Que nunca na história deste país um Ministério foi tão inchado e tão incompetente. E que jamais existiu um casal presidencial tão perdulário quanto o que hoje habita o Alvorada.

A reportagem de capa desta edição, assinada por Silvio Navarro, mostra que grande parte da imprensa convencional começa a ver o que Oeste sempre enxergou nitidamente. E, assim, prepara-se para abandonar um governo à deriva. “Do outro lado da Praça dos Três Poderes, a Primeira Turma do Supremo, responsável por quase tudo que chega ao tribunal, também vive dias difíceis”, observa Navarro. “Ocorre que, agora, o chefe dos inquéritos, relator, acusador, vítima e juiz do caso, tem sido confrontado por advogados dos réus em sustentações orais presenciais — que até então eram feitas por meio de vídeos gravados.”

Cristyan Costa tem acompanhado de perto esse teatro do absurdo. Nesta semana, por exemplo, Jeffrey Chiquini, advogado do tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo, desmontou a acusação segundo a qual seu cliente teria sondado a casa de Alexandre de Moraes em Brasília, no dia 15 de dezembro de 2022, com a intenção de matá-lo. Provas documentais como geolocalização, registros em redes sociais, recibos de aplicativos e comprovantes de pedágio atestam que Azevedo não estava na capital federal na data indicada.

Como no caso de Filipe Martins — ex-assessor internacional de Jair Bolsonaro —, todos esses documentos e evidências foram ignorados. Testemunhas de defesa nem sequer foram ouvidas. Martins ou seis meses na cadeia antes de conseguir ser solto, mas atado a uma tornozeleira eletrônica — marca símbolo da meia-liberdade inventada por Moraes. Azevedo está atrás das grades há mais de 180 dias — sem quaisquer perspectivas de libertação.

Oeste também se manteve distante das fantasias espalhadas por boa parte da mídia sobre o suposto colapso global causado pelas tarifas comerciais de Donald Trump contra a China. “Em primeiro lugar, a mídia não entende que Trump está aplicando o antigo mandamento dos príncipes, até hoje não substituído por outro melhor: nenhum governante ganha nada sendo fraco”, escreve J.R. Guzzo. “Ele não desafiou a China. Só mostrou que os Estados Unidos vão usar a força que têm — essa é a regra do jogo. Os chineses entenderam. A imprensa brasileira, não.”

A cegueira segue. Guilherme Fiuza descreve o papelão protagonizado por Janja e Dilma Rousseff em Pequim. A dupla decidiu exibir, na capital chinesa, o filme Ainda Estou Aqui, que narra a história de um brasileiro preso e assassinado pela ditadura militar. Na plateia sobravam oficiais da ditadura chinesa — especialistas em prender, torturar e eliminar opositores. Como se não bastasse tal maluquice, o presidente e a primeira-dama ainda pediram ajuda a Xi Jinping para “disciplinar” as redes sociais no Brasil. Nesse filme, ironiza Fiuza, “é a ajuda chinesa que protege a democracia brasileira”.

Para quem ainda perde tempo com a velha imprensa, a ficha está caindo agora. Quem lê Oeste sabe disso há muito tempo.

Boa leitura.

Branca Nunes,

Diretora de Redação