Estão queimando judeus de novo. No domingo, 1º, em Boulder, Colorado, um homem usou um lança-chamas improvisado e coquetéis Molotov para tentar atear fogo a um grupo de judeus. Oito pessoas, com idades entre 52 e 88 anos, ficaram feridas. Seu “crime”? Elas estavam reunidas em público para pedir a libertação dos reféns israelenses. Na Europa, na década de 1930, ajudar os pobres judeus era punível com a morte. Parece que nos Estados Unidos da década de 2020 há pessoas que sonham em ressuscitar esse castigo violento e sombrio à solidariedade aos judeus.
Foi um ataque realmente repugnante. O suspeito foi identificado como Mohamed Soliman. Segundo consta, ele é um imigrante ilegal egípcio. E teria encharcado as pessoas que estavam na vigília com um líquido inflamável e então lançado as chamas. Ele “incendiou as pessoas”, como afirmou a CNN sem rodeios. Leia isto mais uma vez: em 2025, nos EUA, pessoas reunidas para expressar solidariedade às vítimas judias do neofascismo foram incendiadas. As imagens de vídeo mostram o suspeito segurando um coquetel inflamável em cada mão enquanto grita “Palestina livre!”. A seus pés estão os judeus queimados.
Há relatos de que a vítima mais velha, de 88 anos, é uma refugiada da Europa da era nazista. “É uma pessoa muito amorosa”, disse um rabino local. A enormidade moral desse fato é avassaladora. Alguém que escapou da queima em massa de judeus na Europa dos anos 1940 é vítima de um novo tipo de queima de judeus nos Estados Unidos do século 21. Alguém cujos parentes foram reduzidos a cinzas pelo nazismo se vê “incendiada” por um suposto ativista pró-Palestina no Colorado moderno. Será um dia sombrio para a humanidade se a República norte-americana, que já foi um refúgio seguro para os judeus que fugiam dos desarranjos do Velho Mundo, for infectada pelo antigo ódio feroz contra o povo judeu.

Suspeito não agiu em um vácuo
O FBI está chamando o fato de um suposto ataque terrorista. O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa’ar, diz que foi um ato de “puro antissemitismo”. Tentamos alertar o mundo sobre palavras de ordem como “globalize a intifada”, afirmou Ted Deutch, do American Jewish Committee. Ele diz que os judeus queimados são o resultado desse grito febril para internacionalizar a aversão violenta do Hamas pela pátria judaica. Os judeus nos Estados Unidos estão nervosos. É compreensível. Apenas dez dias antes, duas pessoas haviam sido mortas a tiros ao sair de um evento judaico em Washington, D.C., também por um homem que gritava “Palestina livre!”. E agora isso.
O FBI diz que o suspeito da queima de judeus no Colorado agiu sozinho. Não é preciso dizer que ele é o único responsável pelo terror e pelas queimaduras infligidas àquelas pobres pessoas. No entanto, ele não agiu em um vácuo. Nos 20 meses que se aram desde o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, fomos testemunhas da demonização selvagem de qualquer pessoa que ofereça solidariedade aos reféns israelenses. Pôsteres dos sequestrados, com fotos dos reféns, foram desfigurados e destruídos. Alguns foram pichados com a palavra “colonialista” e até com bigodes de Hitler. Fitas amarelas para os reféns foram arrancadas.
Pedir a libertação dos reféns ou a ser visto como um ato suspeito. Até mesmo chamá-los de “reféns” é arriscado — eles são “prisioneiros de guerra”, gritam os israelófobos do Ocidente. A solidariedade pelos reféns é um disfarce tênue para o “sentimento genocida”, dizem os agitadores anti-Israel. O ódio contra o Estado judeu entre os grupos ativistas tornou-se tão furioso, tão desequilibrado, que até mesmo a simpatia pelos cidadãos do Estado judeu é vista como uma loucura assassina. O fato de as pessoas que pediam a libertação dos reféns terem sido tão brutalmente agredidas no Colorado é profundamente chocante. Mas — e parece até descuidado dizer isso — não é de todo surpreendente.
Parece que estamos vivendo algo ainda pior do que o ressurgimento do racismo mais antigo: é como se tivesse havido uma virada fascista no Ocidente. Vejamos alguns dos horrores registrados somente na última quinzena. Uma mulher judia foi morta em Washington D.C. enquanto tentava desesperadamente se afastar do homem que atirava contra ela. Três sinagogas e um memorial do Holocausto foram vandalizados em Paris. Um estudante judeu foi levado para o hospital depois de um ataque violento no metrô de Londres. Uma empresa de propriedade de judeus foi destruída por vândalos em Stamford Hill, Londres. E agora judeus “incendiados”. Em toda parte, aquele barulho constante: o som de exércitos de ativistas denunciando a nação judaica como a nação mais perversa, a derramadora de sangue de bebês, a controladora nefasta da política internacional. O eco medieval fica mais alto. A escuridão se espalha.

O grito nada tem a ver com os palestinos
Alguns desses atos sombrios envolveram o grito “Palestina livre!” — alguns ditos, outros pintados com spray. Não é impressionante que muito do que é feito em nome da suposta “libertação da Palestina” tenha o cheiro característico do ódio fascista? Os vidros quebrados de empresas cujos proprietários são judeus, a profanação de sinagogas, o assassinato de judeus, judeus em chamas. Esses agressores e ativistas podem gritar “Palestina livre” quanto quiserem — para alguns de nós, se parece fascismo e fala como fascismo, talvez seja fascismo mesmo.
Está muito claro agora que “Palestina livre” não tem nada a ver com os palestinos. O fato de esse slogan ter sido a última coisa que Sarah Milgrim ouviu quando se arrastava desamparada para fugir de seu assassino em Washington, o fato de ter soado nos ouvidos de uma refugiada do Holocausto em Boulder quando foi incendiada, confirma que se trata de um grito de ódio venenoso envolto em um clamor aparentemente progressista. Parece que a situação dos palestinos foi totalmente sequestrada pela classe ativista do Ocidente, que tem ódio de si mesma e esconde sua violenta rejeição à razão e ao Iluminismo por trás de um keffiyeh para fazer com que a histeria medieval pareça esquerdismo e ousadia. Uma ideologia de desumanidade persegue o Ocidente moderno, e seus ecos do período histórico mais sombrio da humanidade não podem mais ser ignorados.
“Onde queimam livros, no final também vão queimar pessoas”, disse Heinrich Heine. Poderíamos dizer agora que, onde desfiguram violentamente expressões de solidariedade aos reféns judeus, também vão atacar violentamente as pessoas que oferecem seu apoio. As figuras violentas são responsáveis pelo que fazem. O restante de nós é responsável pela forma como reagimos. E, se não reagirmos a uma queima literal de judeus com a fúria justa que um crime tão doentio exige, corremos o risco de agravar o horror original. A consciência da humanidade já ficou adormecida por tempo demais.

Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Seu novo livro, After the Pogrom: 7 October, Israel and the Crisis of Civilisation, foi lançado em 2024. Brendan está no Instagram: @burntoakboy
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triste ainda viver essa realidade nos dias de hoje.
toda minha solidariedade aos judeus cujas obras e solidariedade tanto servem ao mundo a despeito das covardias a que são sujeitos.