Pesquisadores do Instituto Butantan identificaram e sintetizaram uma molécula que apresentou uma atividade antimicrobiana contra diferentes bactérias e fungos. O estudo foi publicado na revista Research in Microbiology. A molécula, denominada doderlina, tem, em outras palavras, a capacidade de combater as superbactérias.
Leia mais: “Sem Deus não há ciência”, entrevista com o cientista Marcos Eberlin no OesteCast
A doderlina eliminou bactérias como Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa, que causam infecções gastrointestinais e pulmonares. Essas bactérias foram amplamente relatadas, em estudos internacionais, como microrganismos multirresistentes.
De acordo com o portal do Instituto Butantan, o composto é extraído da Lactobacillus acidophilus, uma bactéria que habita a microbiota (conjunto de microrganismos) humana. Os trabalhos buscam descobrir um novo antibiótico que ajude a combater infecções resistentes.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a resistência antimicrobiana (combate a micróbios) uma das dez maiores ameaças à saúde pública. O uso indiscriminado de antibióticos é a principal causa dessa resistência.
Leia mais: “A esquerda agora quer censuar a ciência”
Cerca de 1,2 milhão de mortes foram provocadas por bactérias resistentes a cada ano. Quase 5 milhões de mortes foram indiretamente associadas a esse uso indiscriminado. O prejuízo estimado pode chegar a US$ 100 trilhões à economia mundial até 2050.
O Butantan fez testes laboratoriais que controlaram a Escherichia coli e a Pseudomonas aeruginosa. A primeira está associada ao trato gastrointestinal e urinário e à meningite neonatal. A segunda tem o potencial de causar infecções pulmonares e gastrointestinais.
A eficácia da doderlina também foi percebida no combate ao fungo Candida albicans, causador da candidíase e conhecido pela capacidade de provocar infecções recorrentes, informou o portal do Butantan.
Algumas cepas (variantes) têm resistência a um antifúngico padrão. A infecção por Candida é uma das mais comuns em pessoas imunossuprimidas (sistema imunológico enfraquecido).
Equipe do instituto busca parcerias para dar sequência às pesquisas

Os testes mostram duas hipóteses para o uso da doderlina: na indústria farmacêutica, para o desenvolvimento de medicamentos, e na indústria alimentícia, para evitar contaminação e tratar animais infectados.
“Os peptídeos antimicrobianos são compostos sintetizados por todas as formas de vida, com o objetivo de se proteger de ameaças e aumentar sua competitividade para sobreviver em um ambiente específico”, explica o pesquisador Pedro Ismael da Silva Junior, coordenador do estudo.
O trabalho foi realizado no Laboratório de Toxinologia Aplicada do Instituto Butantan, como tema do mestrado em biotecnologia da estudante Bruna Souza da Silva. A equipe ainda procura parcerias para desenvolver testes em animais e chegar à etapa dos testes clínicos.
Este foi mais um composto com atividade antimicrobiana desenvolvido no laboratório do Butantan. Além dos provenientes de bactérias, há os que são extraídos de veneno e sangue de animais peçonhentos, como aranhas e escorpiões, e de plantas.
“A ideia por trás disso é que, se esses organismos vivem na Terra há milhões de anos, e mudaram muito pouco ao longo do tempo, eles têm alguma característica que os defende, que os protege”, disse Junior. “Então partimos dessa premissa para buscar novos compostos terapêuticos.”
Entre ou assine para enviar um comentário. Ou cadastre-se gratuitamente
Você precisa de uma válida para enviar um comentário, faça um upgrade aqui.