Os bancos internacionais estão mudando de opinião sobre a Bolsa de Valores de São Paulo. E voltaram a ficar otimistas. O Morgan Stanley elevou sua recomendação da bolsa brasileira para overweight, projetando que em 2026 o Ibovespa deverá chegar aos 189 mil pontos, ante os 140 mil pontos atuais.
A motivação do banco americano é o “espaço para o início de uma mudança de política, especialmente na política fiscal” e um “enfraquecimento da plataforma política atual”. Ou seja, precificaram já uma possível mudança de governo.

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Brasil na contramão dos emergentes
Para a agência de classificação de risco Fitch, o desempenho econômico do Brasil irá na contramão dos emergentes.
O crescimento potencial estimado para o Brasil foi revisado para cima pela Fitch, ando de 1,7% para 2,0%.
Outras economias emergentes, como China, México, Coreia do Sul e Índia, tiveram suas previsões cortadas.
Brasileiros também estão mudando de opinião
O otimismo estrangeiro está contagiando também os operadores no Brasil.
O Banco Safra revisou sua projeção para o Ibovespa, estimando 170 mil pontos em 2026.
Segundo o banco, a perspectiva de fim do ciclo de aperto da Selic, reforçada por sinais de moderação na atividade econômica, resultou em uma melhora do sentimento do mercado.
Além disso, os resultados das companhias brasileiras seguem saudáveis, e isso deverá alimentar o Ibovespa também no ano que vem.

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WEG das arábias
A gigante metalúrgica brasileira WEG finalizou uma entrega de motores elétricos e inversores de frequência para um megaprojeto petroquímico de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
A operação totalizou cerca de R$ 130 milhões em receita e envolveu a produção e o envio de mais de 700 equipamentos.
O complexo petroquímico deverá entrar em operação no final deste ano, com previsão de adicionar 1,4 milhão de toneladas anuais à capacidade de produção de polipropileno (PP) e polietileno (PE) do país árabe.
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Está mais caro morar
Os aluguéis residenciais não param de subir no Brasil
O Índice FipeZAP registrou um aumento de 1,25% no aluguel residencial em abril de 2025, em mais uma aceleração à série mensal do índice.
O aumento foi superior ao da inflação oficial do Brasil, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que registrou uma alta de 0,43%, e do Índice Geral de Preços — Mercado (IGP-M), que no mesmo período subiu 0,24%.
A capital que registrou o maior encarecimento nos aluguéis foi Aracaju, com uma alta de 2,84%, ante um aumento de 0,02% em Salvador.

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Mercado imobiliário bombando
As vendas e os lançamentos de novos imóveis no Brasil cresceram mais de 15% no primeiro trimestre de 2025 na comparação com o mesmo período do ano ado.
Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o número de imóveis lançados entre janeiro e março foi de 84,9 mil, enquanto as vendas de unidades residenciais chegaram a 102,5 mil.
O programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) foi fundamental para alcançar esse resultado, respondendo por 53% do total de unidades residenciais lançadas no trimestre, além de ter participação importante no volume de vendas do período.
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Iates brasileiros cobiçados no exterior
Os navios de luxo brasileiros estão caindo cada vez mais no gosto dos gringos.
Segundo dados do Comex Stat, sistema de estatísticas de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, as exportações brasileiras de barcos cresceram mais de 220% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao mesmo período de 2024.
De olho nesse mercado promissor, renomados estaleiros nacionais já abriram unidades de vendas no país e, em alguns casos, dobraram o volume de exportações para os Estados Unidos.

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Menos aço no Brasil
A produção brasileira de aço bruto caiu 3,1% em abril, na comparação com o mesmo mês do ano ado, chegando a 2,628 milhões de toneladas.
As exportações também caíram 4,4% no período, enquanto as importações dispararam 27,5%.
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De volta para os céus
O transporte aéreo brasileiro voltou finalmente à normalidade depois da pandemia de covid-19.
Nos primeiros quatro meses de 2025, o número de ageiros que utilizaram transporte aéreo aumentou 4% em comparação com o mesmo período do ano ado.
Segundo o Relatório de Demanda e Oferta da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a movimentação anual deve ser a melhor da história, ultraando 123 milhões de ageiros até dezembro.

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Mesmo assim, governo vai ajudar
Mesmo com esse boom de ageiros no transporte aéreo, o governo Lula vai liberar bilhões de reais para o setor aéreo por meio do Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC), que deverá estar disponível ainda no primeiro semestre deste ano.
O presidente Lula sancionou no ano ado a Lei Geral do Turismo, que permite um financiamento de até R$ 6 bilhões para o setor aéreo por meio do FNAC.
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Azul ainda enfrenta turbulências
A companhia aérea Azul poderia pedir recuperação judicial nos Estados Unidos na próxima semana.
A empresa precisa refinanciar uma dívida de R$ 600 milhões e está negociando com os credores um acordo de reestruturação.
A Azul negou essa possibilidade, mas as ações da companhia aérea despencaram na Bolsa de Valores de São Paulo, perdendo cerca de 70% em poucos dias.
Uma eventual recuperação judicial poderia prejudicar a fusão entre a Azul e a Gol, que está sendo ensaiada desde o começo de 2024.

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Dá um troco aí, Petrobras
O governo do Rio de Janeiro está negociando um plano de refinanciamento de dívidas estaduais com a Petrobras.
Cláudio Castro espera arrecadar R$ 28 bilhões em dívidas com a estatal, a maior parte das quais de ICMS.
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‘A direita tem a ideologia certa, só falta visão e vontade de ousar’, diz Mangabeira Unger
Aos 78 anos, o professor Roberto Mangabeira Unger não para de pensar no Brasil do futuro. Para esse carioca crescido entre Nova York, Salvador e Rio de Janeiro, descendente de figuras importantes da política brasileira, o futuro do país poderá ser grandioso, mas precisará de vontade política, visão e espírito de sacrifício por parte da população. Entre os mais jovens professores de Harvard da história, Mangabeira Unger formou vários presidentes, secretários de Estado e políticos americanos, entre os quais Barack Obama. No Brasil, foi duas vezes ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Ele acredita que a direita brasileira pode ser o vetor da transformação nacional, “só falta visão e vontade de ousar”.

Qual é sua avaliação do terceiro mandato de Lula?
O governo Lula está perdido. E o Brasil está sem rumo. Nossa economia regrediu para um primarismo produtivo. Estaríamos no chão, no abismo, se a agricultura, a pecuária e a mineração não estivessem pagando a conta do consumo urbano. E é só por isso que o Brasil ainda parece ostentar uma relativa prosperidade.
Qual é a solução?
O capitalismo popular, que deveria ser a bandeira da direita, mas, até o momento, não é. Um capitalismo que não permita que os bancos e o rentismo financeiro orientem o desenvolvimento. E isso tem exigências próprias. Precisamos de realização fiscal. Mas o objetivo principal é dar ao Estado brasileiro e ao país margem de manobra para ousar na construção de uma estratégia de desenvolvimento nacional. Devemos privilegiar superávits fiscais, não no entendimento pseudo-ortodoxo, que é o superávit necessário para pagar rentistas, mas geradores da poupança popular, destinados ao financiamento da produção. Depois, atacar o cartel bancário, o oligopólio financista. A forma eficaz de fazer isso não é convidar mais um grande banco estrangeiro para concorrer com bancos nacionais. Precisamos revogar a Lei de Usura e permitir que milhões de brasileiros, pessoas físicas, emprestem um para o outro. O terceiro requisito é assegurar a todo cidadão brasileiro uma conta gratuita no Banco Central para fazer seus pagamentos. O processo oposto à privatização do Pix. Precisamos criar uma gestão coletiva do sistema de pagamentos, um sistema financeiro a serviço da produção, e não dos bancos.

Como implementar essa teoria?
Antes de tudo precisamos levantar o país do primitivismo produtivo, onde atua a grande maioria do povo brasileiro. E dois grupos são cruciais. De um lado, as pequenas e médias empresas, tecnologicamente retrógradas, da periferia econômica. Do outro, uma multidão de agentes econômicos individualizados, os autônomos, os informais, os precarizados, que hoje são uma parte crescente ou até majoritária da força de trabalho no Brasil.
Como levantá-los?
O Estado brasileiro é um dos únicos do mundo onde essa qualificação produtiva é possível. Graças aos resquícios, ao legado do corporativismo varguista. O Senai, o Senae, o Senac, a Embrapa, os bancos públicos de desenvolvimento etc. Muitos desses instrumentos estão carcomidos, justamente por não estarem mobilizados a favor de um projeto produtivista. Mas nós poderíamos redimi-los do clientelismo, do patrimonialismo, se os transformássemos em instrumentos desse projeto de qualificação produtiva.
Mas para isso seria preciso, no mínimo, uma injeção de tecnologia no tecido econômico.
Essa é a parte mais ambiciosa do capitalismo popular. Repensar a evolução da tecnologia na era da economia do conhecimento e da inteligência artificial. A tecnologia não tem uma lógica imanente de evolução. Ela não evolui de moto-próprio. Ela evolui à base de um projeto que nós temos que dar a ela. E as grandes linhas desse projeto são três. A primeira é que a tecnologia deve evoluir de uma forma que permita a sua utilização pelos agentes econômicos mais importantes. Os dois grupos que nomeei anteriormente: as pequenas e médias empresas retrógradas e a multidão de agentes econômicos individuais. Permitir esse desenvolvimento do baixo, e não apenas uma contrapartida brasileira aos oligopólios do Vale do Silício. O segundo princípio é que a tecnologia deve evoluir de tal maneira que equipe o trabalhador. Toda inovação tecnológica destrói alguns empregos e cria outros. Mas o que nos interessa é exigir que ela empodere e equipe o trabalho.
Qual é sua crítica à direita brasileira?
É o fato de ela não ter abraçado esse projeto, que deveria ser próprio dessa visão política. Até pelo fato de a base eleitoral da direita ser o povo que está pedindo por capitalismo. Hoje, a maioria das pessoas não são os proletários de Karl Marx. A esquerda, no século 20, entendia que a vanguarda do povo era o operariado industrial, sediado nos setores intensivos em capital. A maioria da humanidade é o que se poderia chamar de uma pequena burguesia subjetiva. O que quer a maioria dos homens e das mulheres no mundo todo? Ter uma pequena fazenda, um comércio nas cidades, um serviço técnico pelo qual possa cobrar, uma lojinha.

Como transformar essa pequena burguesia subjetiva em uma classe empreendedora inovadora?
Essa pequena burguesia subjetiva não avançará sozinha se não tiver por aliada uma parte das elites. Por isso, é preciso que em cada país haja uma divisão dentro das elites, entre a parte predominante e uma contraelite produtivista. A parte dominante é tipicamente formada por rentistas, ou financeiros ou de recursos naturais. Esses querem o imobilismo. Mas uma contraelite, uma elite oposicionista que associasse sua pretensão de poder à ideia de fomentar um milagre de crescimento no país, com impulso nacional. Nós temos esses emergentes, muitos deles evangélicos. A insubordinação social desses emergentes está associada a uma insubordinação religiosa. Um conflito religioso latente no povo brasileiro. Até o momento essa classe não conseguiu ter como aliada uma parte da elite que propusesse um programa de capitalismo popular, como contexto de um milagre de crescimento. Essa é a base política que teria de ser o projeto de direita. Mas para isso precisa ter aliados na elite, ideólogos, pensadores, empresários que representem isso. Em vez disso, o que é que tivemos de fato? Nada. Apenas um substituísmo político.
Em que sentido?
A direita chegou ao poder e terceirizou o comando da economia para um funcionário do mercado financeiro, para um financista. E deslocou o debate dessa área real, objetiva, de luta política para o imaginário, para o simbólico. Então, arma uma política identitária da maioria para se opor à política identitária das minorias que a esquerda apoia. Esse falso debate, que esconde os problemas objetivos do país, só nega ao Brasil a oportunidade de criar uma alternativa.
O senhor foi ministro dos governos Lula e Dilma…
Eu tentei.
Por que a esquerda não quis abraçar esse projeto?
O único projeto da esquerda no mundo inteiro, tirando o socialismo real que ninguém sabe o que é, é a humanização do projeto de seus adversários conservadores. Na política, quem controla a agenda é quem mais plausivelmente encarna a causa da inovação, da criação, da construção da energia. Para quais modelos internacionais o Brasil deveria olhar? Nossa tradição é esperar para ver para onde vão as coisas. O que eu estou propondo é que andemos na frente. A ideia central da política é a ideia da grandeza.
Os políticos brasileiros estão preparados para essa ideia de grandeza?
Não. Mas as classes emergentes, sim. Os evangélicos creem no empoderamento. Na voz. Na ação. Na autossalvação. O problema é o vínculo entre essa ideia abstrata de engrandecimento pessoal e a fórmula econômica adista da pequena propriedade familiar, isolada e arcaica.
Nos Estados Unidos, na Europa, na China, no Japão existem grandes escolas que formam os líderes, boa parte dos presidentes americanos saíram de Harvard. Na França, de Sciences Po etc. Aqui no Brasil, o senhor vê algum tipo de Academia para futuros líderes?
Não. Se o Brasil se tornar um grande país sem ter uma grande universidade, será o primeiro caso no mundo. Nós não temos isso, mas não podemos esperar termos uma Harvard ou uma Oxford para fazer tudo isso que eu estou falando. Temos que ter outra sequência. Em que nós tentemos nos empoderar primeiro e, depois, construir a universidade que reflita essa visão nacional.
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