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Xi Jinping, Lula e Janja, em Pequim, na China | Foto: Ricardo Stuckert/PR
Edição 270

Errando a dois

Lula está cada vez mais enredado na sucessão de erros do casal presidencial, que derrubam a popularidade e a credibilidade do governo

Alexandre Garcia
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Lula orientou o Itamaraty a reagir com firmeza às sanções contra Moraes, como um ataque à soberania nacional. Lula esquece que ele próprio feriu a soberania nacional ao pedir a Xi Jinping — como ele mesmo confessou — que mandasse uma pessoa de sua confiança para tratar de censura digital, tal como a China impõe e pratica. Talvez não saiba que Moraes já feriu a soberania dos Estados Unidos ao mandar intimações diretamente a empresas americanas e ao censurar Rodrigo Constantino, cidadão americano, e Paulo Figueiredo, que tem residência nos Estados Unidos.

Por sua vez, a primeira-dama Janja abandonou na segunda-feira o texto de um discurso sobre “regulação” de redes sociais, atribuindo a elas violência sexual contra crianças e adolescentes. Rebelando-se contra o protocolo em uma reunião de Estado, ela disse:

“Em nenhum momento eu calarei a minha voz para falar sobre isso. Não há protocolo que me faça calar, se eu tiver oportunidade de falar sobre isso, com qualquer pessoa que seja, do mais alto nível ou qualquer cidadão comum. E foi para isso que minha voz foi usada na semana ada quando eu me dirigi ao presidente Xi Jinping, após a fala de meu marido sobre uma rede social [o TikTok chinês]. Como mulher, eu não ito que alguém me dirija, dizendo que eu tenho que ficar calada. Eu não me calarei.”

A fala do marido, segundo ele próprio, foi para pedir que o chefe chinês mande um agente de sua confiança ao Brasil para examinar a rede social. “Eu perguntei ao companheiro Xi Jinping se era possível ele enviar para o Brasil uma pessoa da confiança dele para a gente discutir a questão digital e, sobretudo, o TikTok.” Lula informou também que Xi Jinping vai mandar uma pessoa “para conversar conosco para saber o que a gente pode fazer nesse mundo digital”. Isso significa que virá um agente chinês para conversar com o governo brasileiro sobre censura no mundo digital, assunto no qual a China é especialista.

Na China, três quartos da população estão conectados a redes sociais, mas o controle é rigoroso: há reconhecimento facial para registrar entrada e vinculação ao documento de identidade, à localização e à conta bancária. O governo estabelece o que pode ser visto. Facebook, Instagram, X e outras internacionais não operam na China. Celulares chineses não permitem conexão com o Google. Essas redes são substituídas por plataformas locais. Os americanos desconfiam que o TikTok pode ser usado para espionagem. Já denunciaram, segundo a Reuters, que produtos chineses importados, como guindastes portuários, placas solares, transformadores e computadores, agregam clandestinamente chips, Bluetooths, rádios e modens que permitem controle à distância. Chamar o chefão de tudo isso de “companheiro” tem seu significado.

Na China, três quartos da população estão conectados a redes sociais, mas o controle é rigoroso | Foto: Shutterstock

Lula e Janja alegam repetidamente que querem regulamentar as redes para preservar crianças e adolescentes. Mas as plataformas estão regulamentadas desde 2015, pelo Marco Civil da Internet, uma lei que foi discutida amplamente. Além disso, a Constituição brasileira proíbe “toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”. Segundo o testemunho de quem estava no jantar em Pequim, Janja reclamou que o TikTok favorece a direita no Brasil. Então a questão toda é porque a esquerda não alcança o desempenho da direita nas redes. Tem sido hábito no Brasil censurar a direita e deixar livre a esquerda, como ocorreu na última campanha presidencial — e outra haverá no ano que vem. Pedir ajuda ao regime chinês para agir nas redes que deram mais amplitude à voz do povo, que é a fonte do poder, revela má intenção contra a liberdade, fere a nossa soberania e equivale a se associar a um sistema em que a liberdade é aquela que for permitida pelo Estado.

Lula está cada vez mais enredado na sucessão de erros do casal presidencial, que fazem despencar a popularidade e a credibilidade do governo, a despeito dos esforços do marqueteiro Sidônio. Reage com demagogia: eletricidade grátis para quem ganha até meio salário mínimo, que será paga pelos que ganham mais de um salário mínimo. Para Lula, é impossível resgatá-los da pobreza, pois isso significaria deixarem de votar no PT, como ele mesmo já explicou num discurso. Então, é preciso mantê-los dependentes da caridade pelas mãos de Lula, mas usando o bolso do pagador de impostos. E virá mais, antes das eleições, porque o presidente ouviu vaias três vezes na Marcha dos Prefeitos, e no dia seguinte viu Bolsonaro ser recebido com gritos de “mito”, como se presidente fosse. E prefeitos são os que mais próximos estão dos que votam no próximo ano. E vem a I da Previdência, arrombando a porta.

Janja reclamou que o TikTok favorece a direita no Brasil | Foto: Shutterstock

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