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Ricardo Mello Araújo (PL), vice-prefeito de São Paulo | Foto: Ciete Silvério/Prefeitura de São Paulo
Edição 270

Mello Araújo: ‘Lutamos contra o crime organizado que domina os dependentes da cracolândia’

Vice-prefeito de São Paulo comenta a situação dos usuários de drogas que circulam pelo centro da cidade

Uiliam Grizafis
Uiliam Grizafis
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Era uma manhã normal na cidade de São Paulo. O metrô lotado trilhava pelos bairros da maior metrópole da América Latina, levando milhares de pessoas para o trabalho. Dentro de um dos vagões viajava o segundo político mais importante da capital paulista. O vice-prefeito coronel Mello Araújo (PL) desembarcou na Estação da Luz e caminhou até a Rua dos Protestantes. Naquele 5 de maio, a região conhecida como cracolândia ainda abrigava dezenas de usuários de drogas. Além dos assessores, o ex-comandante da Rota estava acompanhado de profissionais da saúde.

Mello Araújo dividia o tempo dando entrevistas e conversando com os dependentes químicos. Havia, também, uma assistente social, que carregava uma prancheta. Ela conversava com os usuários de drogas e oferecia tratamento em uma casa de recuperação. Naquele dia, a equipe de reportagem viu um dependente entrando em uma van, que o levou a uma clínica. 

O trabalho de “formiguinha”, como mencionou o vice-prefeito, era feito todos os dias. O número de pessoas que frequentavam o lugar diminuiu gradativamente. Nas semanas anteriores, havia cerca de 200 usuários na região. Naquele dia, eram aproximadamente 50. Cinco dias depois, o local estava vazio.

De acordo com Mello Araújo, a maioria das pessoas que estava na cracolândia naquela semana pediu internação. O motivo: “Não havia mais traficantes no entorno. Todos foram presos”, afirmou. Contudo, os usuários que não foram para a internação se dispersaram pela cidade e formaram novos fluxos. A Praça Princesa Isabel, no bairro Campos Elíseos, voltou a abrigar dependentes. O vice-prefeito afirmou que o trabalho é duro, porque o crime organizado controla os usuários da cracolândia. Dita, por exemplo, o que eles devem dizer à polícia.

Para entender melhor a situação, Oeste conversou com o vice-prefeito. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Ricardo Mello Araújo (PL) | Foto: Prefeitura de São Paulo

O que aconteceu para a cracolândia ficar vazia da noite para o dia?

Tenho acompanhado a queda dos números de usuários porque vou todos os dias à cracolândia. Eles foram saindo de forma gradual. Em 6 de maio, havia apenas 71 pessoas na Rua dos Protestantes. Reforçamos o policiamento com cavalos e cachorros quando vimos que havia poucos dependentes e era o momento ideal para acabar com o fluxo. Prendemos traficantes que vendiam drogas dentro dos hotéis da região. O Primeiro Comando da Capital [PCC] usa muitos desses imóveis, inclusive, para lavar dinheiro. Como a droga acabou, muitos dependentes foram procurar internação. No domingo 11, já não havia ninguém na cracolândia. Na segunda-feira 12, funcionários da saúde me disseram que havia 60 pessoas na porta do Caps [Centro de Atenção Psicossocial] pedindo internação. Liguei para o vice-governador, Felicio Ramuth [PSD], e disse que precisávamos fazer um mutirão para mandá-los às clínicas de recuperação. No fim do mesmo dia, 90 já tinham procurado ajuda. Isso ocorre todos os dias. Agora precisamos estar atentos em relação a qualquer agrupamento que apareça no centro de São Paulo. O pessoal pode se juntar para começar a vender drogas em outros lugares. Vamos abordá-los caso isso aconteça.

Depois que os usuários saíram da cracolândia, novos fluxos se formaram no centro de São Paulo. Isso sugere que o problema não foi resolvido. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Muitos se dispersaram, é verdade, mas vamos continuar trabalhando. A polícia vai abordar quando encontrar algum fluxo concentrado. Se houver criminosos, vai prender. Se for usuário, vamos conversar e oferecer internação. Há uma van que está sempre à disposição para levá-los para o tratamento.

Imagem aérea da Cracolândia vazia
Imagem aérea da cracolândia vazia | Foto: Reprodução/Twitter/X

Os dependentes são unânimes em dizer que a Guarda Civil Metropolitana os expulsou da Rua dos Protestantes. É verdade?

Ninguém os expulsou da cracolândia. Temos de entender que os traficantes que atuam no centro de São Paulo têm domínio sobre os dependentes. Para ter uma ideia, os bandidos ficam com o cartão do Bolsa Família dos usuários para depois trocar por drogas. Os criminosos ditam as regras para os dependentes. Então, há uma possibilidade de os traficantes mandarem os dependentes colocarem a culpa na polícia. Há, inclusive, fotos que mostram os líderes do tráfico conversando com os usuários. 

Os traficantes podem ter mandado os dependentes saírem da cracolândia">“Ciro Nogueira: ‘O assalto aos aposentados foi um crime hediondo'”

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