Janja e Dilma apresentaram na China o filme Ainda Estou Aqui. A primeira-dama contou que os chineses se emocionaram com o drama da imposição ditatorial violenta por parte do Estado no Brasil. Os chineses não têm um filme assim para mostrar aos brasileiros. Porque se alguém lá tiver essa ideia será gentilmente dissuadido.
Mas no filme protagonizado por Dilma e Janja é tudo diferente. Democrata é o regime chinês. Autoritária é a oposição ao regime petista. O presidente brasileiro e a primeira-dama pediram inclusive ao presidente chinês ajuda para disciplinar as redes sociais no Brasil. Nesse filme, é a ajuda chinesa que protege a democracia brasileira.
E por que Janja e Dilma, primeira-dama e ex-presidente, aparecem como anfitriãs do filme de Walter Salles Jr.? É um filme oficial do governo brasileiro? É uma biografia de Lula? É a história do PT?
Não. Nada disso. Apenas foi lançado com uma campanha que espalhou intensivamente a ideia do “fantasma da ditadura” assombrando o Brasil. O diretor chegou a declarar à CNN internacional que só foi possível lançar sua obra porque o PT voltou ao poder. Ou seja: em termos propagandísticos, o herói do filme é Lula — aquele que rechaçou o “fantasma da ditadura”.
No filme do filme, o drama de Rubens Paiva nos anos de chumbo virou sustentação política para o governo petista hoje. Essa conexão exótica só é possível graças às mentes binárias que encaixotam tudo na cantilena “direita x esquerda”. Aí é só vender a “direita” como autora do AI-5 (ditadura) e a “esquerda” como a vítima do AI-5 (resistência democrática).
Enquanto essa divisão simplória, anacrônica e enganosa dominar o debate, os oportunistas da lenda vão nadar de braçada.
No filme do filme, o grupo político que está no poder no Brasil veio direto da resistência aos militares no século ado. As páginas mais torpes da história da corrupção no país, escritas nesse meio tempo, não couberam no roteiro. A metragem é longa, mas nem tanto. Quem sabe o Walter conta essa parte numa série?
No filme do filme, Janja e Dilma vão à China exaltar a democracia. Alertar os chineses para o perigo de um Estado autoritário. E discutir com o regime chinês uma receita segura para a liberdade de expressão no Brasil.
São as pessoas certas para isso. Nada mais livre do que botar a geografia e a estatística para dançar e inverter o mapa-múndi como quem picha um muro. A imagem de Dilma com o presidente do IBGE segurando o mapa de cabeça para baixo na China sintetiza o filme do filme: vamos chamar urubu de meu louro, ditadura de democracia e censura de liberdade. Se colar, colou.
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Parabéns Fiuza, seu modo de escrever e demonstrar os fatos são únicos.
Taí o roteiro prontinho para o Outra Coisa do próximo sábado.
Fiuza é um ótimo jornalista, mas essa insistência dele em negar o que seja direita e esquerda é realmente irritante. Até minha netinha de 4 anos sabe o que a direita defende e o que a esquerda defende. É tão simples quanto uma soma de 1+1. Mas parece que o nobre articulista não ite essas diferenças.