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Edição 231

A invenção do século

O que você faz? Use a criatividade

— Bisturi.

— Não tem.

— Como, “não tem”? Nós estamos num centro cirúrgico.

— Isso é verdade. Estamos mesmo num centro cirúrgico. Mas não tem bisturi, doutor.

— Você é uma instrumentadora. Você tem que ter um bisturi à mão.

— Pois é. Teria mesmo que ter. Mas não tem bisturi nenhum aqui. Não posso me virar em bisturi.

— E agora? O paciente já está sedado. O que eu faço?

— Usa a sua criatividade.

— Criatividade? Eu sou um cirurgião! Aprendi a ter perícia, não a ser criativo.

— Perícia e criatividade não são coisas tão diferentes assim.

— De onde você tirou isso?

— Li no jornal.

— Cada coisa que sai no jornal hoje em dia…

— Pois é. A gente tem que se reinventar.

— Como um cirurgião pode se reinventar sem bisturi?

— Vamos por partes.

— Até para ir por partes eu preciso do bisturi.

— Calma, não fica ansioso. Você vai dar o seu jeito.

— Dar o meu jeito?! Anos e anos de estudo para jogar tudo fora e dar um jeito?

— São os novos tempos.

— Novos tempos??

— Pensa pelo lado bom.

— Que lado bom?

— Sem precisar de técnica, perícia e instrumentos, seu trabalho vai ficar mais livre.

— Livre??

— Leve.

— Leve??

— Solto.

— Solto??

— Livre, leve e solto. Nada de estresse. Em vez do trabalho árduo de cortar, costurar etc., você vai improvisar.

— Não sei fazer isso.

— Com o tempo você aprende.

— O que eu tenho que fazer pra aprender?

— Nada.

— Como assim?

— O bom desse aprendizado é justamente isto: você não precisa fazer nada. Basta seguir a correnteza.

— Nadando?

— Boiando.

— Nem uma braçada?

— Nada. A correnteza é forte. Só relaxar e se deixar levar.

— E se me perguntarem pelo paciente?

— Já falei: use a sua criatividade.

— É que isso ainda é novo pra mim. O que ponho no laudo de uma cirurgia que não tinha nem bisturi?

— Você ainda está preso a detalhes. Pensa grande.

— Me dá uma luz.

— Se te perguntarem pelo paciente, diz que ele a bem.

— Mas eu não posso botar isso no laudo!

— Quem assina o laudo?

— Eu.

— Então você pode tudo, bobo.

— E se alguém reclamar?

— A correnteza leva.

— Bom, e o que a gente faz agora? Esse paciente vai dormir um tempão e a gente não tem nada pra fazer.

— Espera aí que vou buscar um baralho.

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26 comentários
  1. José Garcia
    José Garcia

    Fiuza, espetacular !! Para bom entendedor, meias palavras bastam !!

  2. ALEX
    ALEX

    Fico sem entender o porquê a OAB é complacente com todas as ilegalidades que está acontecendo. O que ganham com isso?

    1. Herbert Gomes Barca
      Herbert Gomes Barca

      hahahahahá sensacional Fiuza
      com bisturi ou sem, usa a criatividade ! (criatividade Alexandrina)

  3. Oswaldo Galvão Carvalho
    Oswaldo Galvão Carvalho

    genial Fiuza!
    temos muitos modelos a seguir e de como “usar a criatividade” …kkk!
    doutos e excepcionais “sinistros” da maior competência, que nos ensinam quase de tudo!
    criatividade …. temos de usar.
    poxa! mas se eu usar a minha criatividade vou ser enquadrado no 08 de janeiro.
    já não tenho mais idade para sair usando a minha criatividade. … reconheço.
    pobre e podre Brasil
    viva a américa latrina!

  4. Lauro Patzer
    Lauro Patzer

    Fiuza desmontou o asqueroso esquema de fraudar dados, alterar atas para que as trapaças sirvam como reforço às sentenças previamente concluídas. Uma tramoia sórdida, abjeta, nojenta de um ministro que dá o tapa e esconde a mão. Que julga e sentencia sem mostrar a cara. Faz isso virtualmente. Pior, apoiado por seus pares, que, aliás, já são cúmplices há quase cinco anos. Abuso de poder, perseguições, contas bloqueadas, celulares e aportes apreendidos. Não dá mais. O crime está manifesto em fratura exposta. Ele agora é réu. Réu do povo. Sete de setembro vem aí. As ruas estarão cobertas de verde e amarelo. Mas os Maduros daqui poderão adotar métodos do Maduro de lá. Mandar a PP se infiltrar, bagunçar, para culpar e criar novos golpistas. Pode fazer o que quiser. Perdeu a credibilidade. Está desonrado. Está maculado. A mancha não se apagará com novas perseguições. Basta.

  5. NILSON OCTÁVIO
    NILSON OCTÁVIO

    Estou aqui com a Dilma e ela te pergunta, Fiuza, quem é esse tal de bisturi.

  6. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Quero ver os outros Airtons Vieira e Eduardos Tagliaferro. Afinal de contas, existem mais juízes no gabinete de Moraes, bem como mais agentes no TSE.

  7. Aluízio Rodrigues Menho
    Aluízio Rodrigues Menho

    Criativo e muito divertido. Me fez lembra r de algo.

  8. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Mais um brilhante texto do grande Fiuza. Parabéns. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

  9. MARCELO GONÇALVES PEREIRA
    MARCELO GONÇALVES PEREIRA

    Perdeu Mane, “Zimbora.” O “muro” treme e Mane, pensa, (do verbo cerebelar), de qual lado cair: da direita facista (que o nutre) ou da esquerda muróloga, que como ele, sempre se equilibrou entre o fazer nada e o nada fazer. Está vida é um “Di – Lemmon”, já que Di é 2 X=Didi, que flamejou a bandeira alvinegra, e cujo sonho era ensinar algum garoto a fazer a ‘folha seca’ e reclamava que “ – não via mais ninguém fazer isso”; e Lemmon, John., em sua mensagem inspiradora na letra “Imagine”, encoraja a visão de um mundo sem fronteiras, livre de divisões religiosas e nacionais, propondo uma vida desapegada de bens materiais. Cheguei ao fim, perdido desde o começo, já que não sei operar sem o meu bisturi, pois “faz-de-conta” não corta a pele mas infarta qualquer coração que “tenha sangue nas veias.

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